RELIGIÃO E VIDA HUMANA

julho 8, 2021 / no comments

RELIGIÃO E VIDA HUMANA

Muitas vezes, falar de religião instaura um campo de divisão em nossa consciência coletiva: ela vem de fora ou de alguma parte interna nossa, trata-se, afinal, de uma pergunta a nosso respeito ou uma resposta a respeito de nós?

As ciências humanas, comumente, acentuam aquilo que Auguste Comte chamou de caráter mitológico dos conceitos religiosos, um lugar sem lugar no momento científico em que vivemos.

Perguntar se Deus existe ou não é um péssimo começo de conversa!

Afinal, qualquer Deus que se torne objeto de nossas argumentações será só isso, um objeto, uma coisa entre as outras do universo. Os cientistas que refutaram a religião, na verdade, prestaram a ela um inestimável serviço: eles a forçaram a reformular seu próprio significado.

Na verdade, a religião não é uma função a mais em nossas vidas, mas a dimensão de profundidade presente em todas as funções. A religião é o que dá à vida a dimensão 3D. Ela não se encontra em algum compartimento da vida humana, mas é ela que religa todos eles: religião vem de religar. É ela que revela o fundamento e a profundidade da vida humana, sempre encobertos pela poeira do cotidiano.

A experiência do sagrado, profundamente inspiradora, é uma das fontes da coragem para continuar e sempre fazer melhor.

Quando o mundo reage contra a religião, não percebe que tanto ele como a religião estão no mesmo barco das preocupações supremas. Se eles não se derem as mãos, o barco naufraga e o desastre é grande. Já vivemos isso nas experiências de inúmeras calamidades, e não foi bom.

À medida em que nos damos conta desse hiato, os conflitos entre religião e mundo desaparecem, a religião ocupa seu lugar e concede ao mundo a dimensão espiritual de significado último, a única que o tirou dos lodaçais onde ele se afundou.

 

Artigo de Dom José Francisco Rezende Dias, arcebispo metropolitano de Niterói (RJ) e Presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

Solenidade de Corpus Christi

junho 11, 2020 / no comments

Solenidade de Corpus Christi

Dentro do contexto do coronavírus, iremos celebrar o grande dia de Corpus Christi, a solenidade do Corpo e Sangue do Senhor.

Corpus Christi é uma data móvel, celebrada pela Igreja Católica, aproximadamente, 60 dias depois do Domingo da Páscoa, exatamente, na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade. Na Tradição católica, esta quinta-feira é considerada como um dublê do dia em que Cristo instituiu o Sacramento da Eucaristia: a presença real do Senhor, no pão e no vinho. A alegria da Quinta-feira Santa é transferida para essa quinta-feira.

A festa foi instituída pelo Papa Urbano IV, em 1264. Segundo os biógrafos, o Papa incumbiu Santo Tomás de Aquino e São Boaventura de redigirem o ofício litúrgico da nova solenidade. Conta-se que, enquanto o Papa ouvia a leitura do texto composto por Santo Tomás, São Boaventura rasgou o seu em pedaços, sem coragem de ler em seguida, tamanha a beleza daquilo que ouvia.

O Papa Urbano morreu em outubro do mesmo ano e isso retardou a adoção das celebrações. A comemoração de Corpus Christi só entraria no calendário litúrgico, décadas depois, sendo a festa confirmada pelo décimo quinto concílio ecumênico da Igreja Católica, reunido em 1311, em Vienne, na França.

De grande reverência são as procissões pelas ruas, enfeitadas com lindos tapetes de sal, muitas vezes, confeccionados durante a noite e a madrugada. Desde seminarista, eu admiro essa devoção transformada em arte. É uma verdadeira adoração Eucarística, feita de fé e de sal colorido. Neste ano, devido à pandemia, fizemos a proposta do tapete virtual: as pessoas enviam para o site da Arquidiocese os seus desenhos em homenagem a Jesus Eucarístico, que serão divulgados no dia de Corpus Christi.

A pandemia poderá até impedir as manifestações exteriores, mas jamais terá o poder de entravar a generosidade do coração que ama e adora o Senhor sacramentado, ressuscitado e vivo para sempre.

 

Artigo de Dom José Francisco Rezende Dias, Arcebispo Metropolitano de Niterói e Presidente do Regional Leste 1 – CNBB.