As eleições e os pobres
Pelo 4º ano consecutivo, acolhemos a proposta do Papa Francisco de celebrar o Dia Mundial dos Pobres, que este ano tem como tema a exortação de Ben Sirac: “estende a tua mão para o pobre”(Eclo 7, 32). Trata-se de uma iniciativa inspirada pela celebração do Jubileu da Misericórdia (anos 2015-2016) e que ocorre sempre no domingo anterior à celebração da solenidade de Cristo Rei do Universo.
Em nossa Diocese de Nova Iguaçu fomos ao longo da semana, testemunhando nas redes sociais como, concretamente, temos estendido as mãos para a pobreza que se manifesta nos rostos de crianças, adolescentes, jovens, idosos, famílias e na área da saúde. O Dia dos Pobres nos compromete com eles não apenas um dia, mas é um compromisso que, por força da própria experiência de fé, assumimos todos os dias.
No Evangelho, quando Judas reclama com Jesus da atitude da mulher, que quebrara um frasco de alabastro, contendo perfume raro e caro, para ungir os pés de Jesus em vez de oferecer o dinheiro aos pobres, ele respondeu: “pobres sempre tereis convosco” (Jo 12, 8). A palavra do Mestre é comprovada pela própria experiência da Igreja, que sempre procurou acolher, em meio às vicissitudes da história, o conselho de São Pedro a São Paulo de “não esquecer dos pobres” (Gal 2, 10).
Na Mensagem do Papa Francisco para esta ocasião, recorda-se que “a pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40)”.
O tema deste ano é uma proposta bem concreta: estender a mão. Trata-se de “um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor” (Francisco). O encontro com uma pessoa em situação de especial pobreza não pode continuar a nos deixar indiferentes. Ao contrário, conforme insiste o Papa na sua mensagem, o “clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade”.
Uma consciência reta necessariamente se coloca perguntas diante de situações que privam o irmão de sua dignidade mais elementar: “Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-lo na sua pobreza espiritual?”
Este ano a celebração coincidiu, no Brasil, com as eleições municipais. Uma feliz coincidência,pois pode oportunizarum examedeconsciência, tanto para eleitores como para os que se apresentam como candidatos para mais este pleito eleitoral, sobre o lugar dos pobres nas nossas escolhas.
Na mensagem dos Bispos católicos do Estado do Rio lembrou-se que o contexto atual “exige atitudes políticas novas, capazes de repensar o serviço à cidade com modalidades mais eficientes, priorizando políticas públicas que defendam a vida na sua totalidade (família, saúde, educação, moradia, segurança, ambiente, etc.).”Por isso, pede-se que se considere o compromisso dos candidatos “com os reais interesses da cidade, especialmente para com os mais pobres e vulneráveis.”
Afinal, “a escolha dos prefeitos e vereadores pode ser determinante para processos de superação de desigualdade social e melhor qualidade de vida para todos.”
Neste 15 de novembro nos sentimos ainda mais comprometidos com o destino de todos, mas particularmente dos pobres e esquecidos de nossa sociedade. Ser cristão é também comprometer-se com os rumos da sociedade, pois somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai.
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.