Um trabalho digno para todos: a mensagem dos três últimos Papas

maio 12, 2025 / no comments

Um trabalho digno para todos: a mensagem dos três últimos Papas

 

 

Na publicação anual das intenções de oração para 2025, o Papa Francisco convidou-nos a rezar em maio “Pelas condições de trabalho”. Devido à sua morte, o vídeo que acompanha esta intenção de oração muda de formato: para favorecer a reflexão, recorda algumas palavras dos três últimos Papas – João Paulo II, Bento XVI e Francisco – sobre este tema.

O Vídeo do Papa de maio, realizado com a ajuda da Câmara de Comércio de Roma e da Fondazione PRO Rete Mondiale di Preghiera del Papa e divulgado pela Rede Mundial de Oração do Papa, convida a rezar “para que, através do trabalho, cada pessoa se realize, as famílias sejam sustentadas com dignidade e se humanize a sociedade”.

As imagens que acompanham as palavras dos Pontífices reúnem diferentes experiências de vida em torno do mundo do trabalho. Em primeiro lugar, vemos uma oficina de carpinteiro, com uma imagem de São José esculpida à mão no século XIX, em madeira de tília, por mestres escultores de Val Gardena; temos as várias realidades da Cidadela de Loppiano – a oficina de cerâmica, a cooperativa agrícola, a empresa de embalamento e acabamento de muitos artigos – em que o trabalho é vivido numa perspetiva de comunhão. E não faltam imagens evocativas da exploração de que são vítimas milhões de trabalhadores em várias partes do mundo.

160 milhões de crianças obrigadas a trabalhar

O mundo do trabalho tem estado muito presente no Magistério da Igreja desde o final do século XIX: uma consequência do olhar atento dos Papas sobre a realidade e da sua preocupação com o bem espiritual e material das pessoas. Atualmente, segundo dados da ONU e da OIT, 402,4 milhões de pessoas em todo o mundo estão desempregadas; 160 milhões de crianças são obrigadas a trabalhar; 240 milhões de trabalhadores recebem um salário inferior a 3,65 dólares por dia; e mais de 60% da população ativa mundial trabalha na economia informal, o que significa que cerca de 2 mil milhões de pessoas estão privadas de direitos laborais e de proteção social.

Os Papas e o mundo do trabalho

As palavras de Francisco sublinham que o trabalho confere “uma unção de dignidade”: ganhar o pão dá dignidade à pessoa. O próprio Jesus trabalhou como carpinteiro, “um ofício bastante duro” que “não assegurava grandes rendimentos”, e que partilhou com todos os trabalhadores ao longo da história.

Algumas das frases de Bento XVI sublinham a importância primordial do trabalho “para a realização humana e o desenvolvimento da sociedade”. Por conseguinte, o trabalho deve ser “organizado e realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem comum”. Ao mesmo tempo, o homem não deve deixar-se “escravizar pelo trabalho (…) pretendendo encontrar nele o sentido último e definitivo da vida”, que só se encontra em Deus.

Por fim, as palavras de S. João Paulo II exortam a enfrentar os desequilíbrios económicos e sociais e as situações de injustiça que existem no mundo do trabalho, colocando em primeiro lugar “a dignidade do homem e da mulher que trabalha, a sua liberdade, responsabilidade e participação”. Tudo isto, sem esquecer “aqueles que sofrem por falta de emprego, por salários insuficientes, por falta de meios materiais”. São precisamente estes desequilíbrios e situações de injustiça que tornam necessário rezar para que o centro do trabalho e da vida económica e social seja o ser humano e não o lucro.

Um bem-estar partilhado

“O trabalho”, comenta Lorenzo Tagliavanti, presidente da Câmara de Comércio de Roma, “é como o ar: apercebemo-nos do seu valor quando nos falta. Segundo a Doutrina Social da Igreja, o trabalho é um direito humano fundamental e um elemento decisivo para a realização pessoal de cada um e para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidária: tudo aspetos sobre os quais procuramos dar o nosso melhor todos os dias, como instituição de referência da comunidade económica de Roma e da sua Província, ao lado das empresas e dos trabalhadores. Esta intenção de oração, que acompanha o Jubileu dos Trabalhadores e o Jubileu dos Empresários, oferece-nos, portanto, a oportunidade de reafirmar o compromisso assumido em 1831, quando precisamente um Papa – Gregório XVI – fundou a Câmara de Comércio de Roma com decreto do Cardeal Bernetti, Secretário de Estado: prosseguir um modelo de desenvolvimento baseado na cooperação e na atenção ao interesse comum”. “Permita-me”, conclui Tagliavanti, “recordar as palavras do Papa Francisco em 2023 a um grupo de empresários franceses: ‘se é verdade que o trabalho enobrece o homem, é ainda mais verdade que é o homem que enobrece o trabalho’. É precisamente esta atenção ao homem que motiva o nosso trabalho quotidiano, na busca de um modelo de desenvolvimento orientado para um bem-estar partilhado por todos”.

Trabalho e dignidade

“Outro conceito sublinhado pelos Pontífices é que o valor do trabalho vai muito além do seu aspeto económico. Se perguntarmos a dez crianças o que gostariam de fazer quando crescerem”, comenta Stefano Simontacchi, membro fundador e membro do conselho de administração da Fondazione PRO Rete Mondiale di Preghiera del Papa, “provavelmente obteremos dez respostas diferentes, porque as aspirações de cada um são diferentes: como na parábola dos talentos, de facto, a cada um foi dado o seu, e o trabalho é a possibilidade de o fazer frutificar, de realizar a sua personalidade. No trabalho, de facto, há muito mais do que a independência económica, que também é importante: há o contributo que se dá à sociedade e, para nós, crentes, também a participação na criação divina. O Papa Francisco usou uma expressão muito bonita para definir tudo isto: chamou ao trabalho a “unção da dignidade”, e esta unção da dignidade é o que realmente faz a diferença nas nossas vidas”. Ainda mais nesta era de grandes mudanças, como a inteligência artificial, que nos deve levar a promover sistemas solidários como forma de coesão social. A gratidão, o respeito e a solidariedade devem ser a nossa bússola”.

Trabalho digno, um objetivo prioritário

O Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, P. Cristóbal Fones, sj., explica que, para São João Paulo II, o ser humano é chamado ao trabalho exatamente “porque é feito à imagem e semelhança de Deus”: é precisamente o Senhor que lhe dá a possibilidade de participar na sua obra criadora através do trabalho. Na sua encíclica Laborem exercens, João Paulo II diz-nos que, através do nosso trabalho, a dignidade humana, a união fraterna e a liberdade devem multiplicar-se na terra. O trabalho do cristão, unido à sua oração, faz progredir o mundo e, mais importante ainda, contribui para o desenvolvimento do Reino de Deus”.

“Nesta base” – continua o P. Fones – “o seu sucessor, Bento XVI, afirma na encíclica Caritas in Veritate que a dignidade da pessoa exige que as escolhas económicas não aumentem a desigualdade e que o trabalho digno para todos seja um objetivo prioritário. Bento XVI assegura que a pobreza é, em muitos casos, o resultado da violação da dignidade do trabalho humano: por vezes as possibilidades da pessoa são limitadas, como no caso do desemprego ou do subemprego; e outras vezes o direito a um salário justo ou à segurança do trabalhador e da sua família não é respeitado”.

Neste sentido, o P. Fones sublinha a continuidade do magistério do Papa Francisco com o dos seus antecessores: “O Papa Francisco diz-nos que o trabalho é sagrado. É o meio que temos para construir uma sociedade mais humana: se queremos uma sociedade mais justa, temos de promover o emprego digno, estável, realizado em ambientes saudáveis e com medidas de segurança adequadas, o que implica o respeito pelos direitos fundamentais e a proteção social, bem como um salário que permita às famílias manter uma boa qualidade de vida”.

Isso será possível “se recuperarmos o verdadeiro valor do trabalho, se abandonarmos a lógica do lucro a qualquer custo e colocarmos ao centro as pessoas, especialmente aquelas que hoje não conseguem viver de forma humanamente digna”.

Finalmente, no contexto do Ano Santo de 2025, O Vídeo do Papa adquire uma relevância especial, porque nos dá a conhecer as intenções de oração pontifícia. Para obter a graça da indulgência jubilar, é necessário rezar por estas intenções.

Assista o vídeo na íntegra:

Vídeo do Papa: A tecnologia não pode beneficiar somente a uns poucos

abril 4, 2025 / no comments

Vídeo do Papa: A tecnologia não pode beneficiar somente a uns poucos

 

A intenção de oração do Papa Francisco para o mês de abril é dedicada às novas tecnologias: o pontífice pede orações “para que o uso das novas tecnologias não substitua as relações humanas, mas respeite a dignidade das pessoas e ajude a enfrentar as crises do nosso tempo”. Trata-se de um tema de grande atualidade que nos atinge a todos, especialmente por causa da enorme difusão das redes sociais e do crescente desenvolvimento da inteligência artificial.

Tecnologia a serviço das pessoas

No vídeo mensagem que ilustra esta intenção de oração, realizado pela Rede Mundial de Oração do Papa com a colaboração de Coronation Media e do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, o Papa Francisco recorda que “a tecnologia é fruto da inteligência que Deus nos deu”. Mas, se não é utilizada bem, pode produzir efeitos negativos. Entre eles, o Papa lembra o isolamento e a falta de relações verdadeiras: “Se passamos mais tempo com o celular do que com as pessoas, alguma coisa não funciona”. O ciberbullying e o ódio nas redes sociais são outros riscos importantes: “A tela nos leva a esquecer que por trás há pessoas reais que respiram, riem e choram”. Por isso mesmo, o Papa adverte que “a tecnologia… não pode beneficiar somente a uns poucos enquanto outros são excluídos”; caso contrário, aumentarão cada vez mais as desigualdades econômicas, sociais, laborais, educativas etc.

Para evitar estes perigos, o Papa Francisco convida a colocar a tecnologia a serviço do ser humano, utilizando-a para unir as pessoas, ajudar aos necessitados, melhorar a vida dos enfermos e dos que possuem capacidades diferentes, fomentar a cultura do encontro e proteger nosso planeta.

Trata-se, definitivamente, de que as novas tecnologias não nos distanciem dos demais e da realidade. Por isso, em seu vídeo mensagem, o Papa pede que olhemos “menos as telas” e que “nos olhemos mais nos olhos”. Deste modo, poderemos descobrir “o que realmente importa: que somos irmãos, irmãs, filhos do mesmo Pai”, e agir em consequência disso.

Um enfoque ético

O cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, faz ecoar as palavras do Papa Francisco: “As novas tecnologias são um importante recurso e instrumento a serviço da família humana. Para que sirvam ao seu desenvolvimento, o seu uso deve orientar-se pelo respeito da dignidade e dos direitos fundamentais do homem. Vamos nos unir ao chamado do Santo Padre, para que o progresso digital constitua um dom para a humanidade, no respeito da dignidade de cada pessoa, da justiça e do bem comum”.

A necessidade de um enfoque ético das novas tecnologias também é reforçada por Coronation Media, a empresa de produção estadounidense que colaborou na realização do vídeo deste mês. “Coronation Media está orgulhosa de apoiar O Vídeo do Papa, continuando uma década de serviço à Igreja Católica como premiado estudio de vídeo e animação”, afirmam seus cofundadores, Bill Phillips e Gary Gasse. “Esta colaboração representa um marco significativo no compromisso contínuo da empresa de navegar pela convergência da expressão humana autêntica com as novas tecnologias e meios de comunicação. Foi uma honra profunda apoiar diretamente a oportuna mensagem de Sua Santidade à comunidade eclesial mundial sobre o uso responsável da tecnologia. De um modo muito concreto, apoiar esta mensagem supõe reforçar nossa dedicação ao uso ético das tecnologias emergentes para fomentar o desenvolvimento humano e para Coroar o Bem em nosso trabalho”.

Os efeitos da tecnologia em nossas vidas

O Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, Pe. Cristóbal Fones, S.J., afirma que, no vídeo, “o Papa Francisco nos quer recordar que usar responsavelmente a tecnologia supõe colocá-la a serviço da pessoa humana e da criação. Se é usada desta forma, é também um meio para dar glória a Deus, já que nossas capacidades e nossa criatividade provêm d´Ele. Além disso, o uso ético das novas tecnologias ajuda a cuidar da criação, salvaguarda a dignidade do ser humano e melhora sua vida”.

Neste ponto, o Pe. Fones menciona avanços como a facilidade de acesso a uma infinidade de recursos educativos on-line; a telemedicina, os aplicativos dedicados à saúde e os novos instrumentos de diagnósticos; os aplicativos que melhoram a comunicação e que permitem manter contatos ao redor do mundo e inclusive trabalhar em equipe, apesar das distâncias; as tecnologias de reciclagem e as energias renováveis… “A tecnologia pode ser uma poderosa ferramenta para enfrentar crises globais como a pobreza ou a mudança climática”, afirma.

Porém este uso ético da tecnologia “requer, sobretudo, que olhemos aos demais com os olhos do coração, que estabeleçamos relações fraternas com os outros, que é o que nos convida o Papa – continua o Pe. Fones. O respeito à dignidade de cada pessoa e o bem comum são os princípios que devem guiar-nos no momento de discernir como usar a tecnologia e para quê”.

Em resumo, “o Papa Francisco nos exorta a desenvolver uma consciência crítica sobre como usamos as novas tecnologias e seus efeitos em nossa própia vida e na sociedade. E nos anima a fazer e promover um uso responsável das novas tecnologias que favoreça o desenvolvimento humano integral de todos, especialmente dos mais desfavorecidos”.

A indulgência do Jubileu 2025

No marco do Ano Santo 2025, vale a pena recordar que uma das condições necessárias para obter as indulgências concedidas por causa do Jubileu é rezar pelas intenções do Sumo Pontífice. O Vídeo do Papa apresenta e difunde, precisamente, estas intenções.

Confira o “Vídeo do Papa” do mês de abril na íntegra:

[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=3F_0yObsiSc[/embedyt]