Um pároco planetário: Francisco reflete sobre a necessidade de unidade em entrevista ao La Stampa

janeiro 30, 2024 / no comments

Um pároco planetário: Francisco reflete sobre a necessidade de unidade em entrevista ao La Stampa

Entrevista de Francisco ao jornal italiano La Stampa: “é urgente um cessar-fogo global, estamos à beira do abismo”. Sobre a declaração Fiducia supplicans: “Confio que todos se tranquilizem, visa incluir, não dividir”. “Sinto-me um pároco. De uma paróquia planetária”

“Havia o acordo de Oslo, muito claro, com a solução de dois Estados. Enquanto esse acordo não for aplicado, a verdadeira paz permanece distante.” Esta é a consideração sobre o que está acontecendo na Terra Santa, depois dos ataques do Hamas e da guerra que destrói as cidades da Faixa de Gaza, que o Papa Francisco confia a Domenico Agasso, vaticanista do jornal La Stampa, na entrevista hoje nas bancas. Francisco, falando dos numerosos conflitos em curso, convida a rezar pela paz, indica o diálogo como único caminho e pede para “parar imediatamente as bombas e os mísseis, pôr fim às atitudes hostis. Em todos os lugares”, um “cessar-fogo global” porque “estamos à beira do abismo”.

Esperanças para a Terra Santa e a Ucrânia

O Papa explica a sua contrariedade em definir uma guerra como “justa”, preferindo dizer que é legítimo defender-se, mas evitando “justificar as guerras, que são sempre erradas”. Afirma temer uma escalada militar mas que cultiva alguma esperança “porque estão sendo realizadas reuniões reservadas para tentar chegar a um acordo. Uma trégua já seria um bom resultado.” Francisco define o cardeal Pizzaballa como “uma figura crucial”, que “se movimenta bem” e procura fazer uma mediação, recorda de diariamente fazer uma videochamada para a paróquia de Gaza e afirma também que “a libertação dos reféns israelenses” é uma prioridade. No que diz respeito à Ucrânia, na entrevista o Sucessor de Pedro recorda a missão ao cardeal Zuppi: “A Santa Sé está tentando mediar a troca de prisioneiros e o retorno dos civis ucranianos. Em particular, estamos trabalhando com a Sra. Maria Lvova-Belova, a comissária russa para os direitos da infância, para o repatriamento de crianças ucranianas levadas à força para a Rússia. Alguma já voltou para sua família”.

Fiducia supplicans deseja incluir

Na entrevista, Francisco recorda que “Cristo chama todos para dentro” e referindo-se à declaração que permite bênçãos para casais irregulares e do mesmo sexo, explica: “O Evangelho é para santificar a todos. Claro, desde que exista boa vontade. E é necessário dar instruções precisas sobre a vida cristã (sublinho que não se abençoa a união, mas as pessoas). Mas pecadores somos todos: por que então fazer uma lista de pecadores que podem entrar na Igreja e uma lista de pecadores que não podem estar na Igreja? Este não é o Evangelho.”

No que diz respeito às críticas ao documento, o Papa observa que ” aqueles que protestam veementemente pertencem a pequenos grupos ideológicos”, enquanto define o dos africanos como “um caso à parte”, dado que “para eles, a homossexualidade é algo ‘ruim’ do ponto de vista cultural, não a toleram”. Mas no geral, “confio que gradualmente todos se tranquilizem em relação ao espírito da declaração” que “visa incluir, não dividir. Convida a acolher e depois confiar as pessoas e confiar-nos a Deus”. Francisco admite que às vezes se sente sozinho, “mas de qualquer forma sigo em frente, dia após dia” e diz não temer cismas: “Na Igreja sempre houve pequenos grupos que manifestavam reflexões de nuances cismáticas… devemos deixá-los fazer e passar… e olhe em frente”.

Inteligência artificial, oportunidades e perigos

O Papa aborda então o tema de sua recente mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicado à inteligência artificial, que ele define como “um belo passo à frente que pode resolver muitos problemas, mas que potencialmente, se administrado sem ética, também pode provocar muitos danos ao homem”. O objetivo é que ela “esteja sempre em harmonia com a dignidade da pessoa”, caso contrário “será um suicídio”.

Próximas viagens

Francisco diz que se sente bem, apesar de algumas dores, e não está pensando neste momento em renunciar. Ele recorda as próximas viagens à Bélgica, Timor Leste, Papua Nova Guiné e Indonésia em agosto. Define “entre parênteses” a hipótese de uma viagem à Argentina, dizendo que não se sentiu ofendido com as palavras de Milei durante a campanha eleitoral e confirma que se encontrará com o novo presidente nos próximos dias, logo após a canonização da santa argentina “Mama Antula”, prevista para 11 de fevereiro. Pronto para dialogar com ele.

A Igreja que virá e o Conclave de 11 anos atrás

Depois de recordar o Dia Mundial das Crianças, que “elas são mestras de vida” e devem ser escutadas, o Papa reitera seu sonho de uma “Igreja em saída” e lembra o que aconteceu depois de suas palavras durante as congregações gerais que precederam o Conclave de 2013: “depois de meu discurso houve aplausos, inéditos em tal contexto. Mas eu absolutamente não havia intuído o que muitos me revelariam mais tarde: aquele discurso foi minha ‘condenação’ (sorri, nda). Quando eu estava saindo da “Sala do Sínodo”, um cardeal que falava inglês me viu e exclamou: “Muito bom o que você disse! Belo. Belo. Precisamos de um Papa como o senhor!” Mas eu não havia percebido a campanha que estava se formando para me eleger. Até o almoço de 13 de março, aqui na Casa Santa Marta, poucas horas antes da votação decisiva. Enquanto comíamos, fizeram-me duas ou três perguntas “suspeitas”… Então, na minha cabeça, comecei a dizer a mim mesmo: “Algo estranho está acontecendo aqui…”. Mas ainda consegui tirar uma soneca. E quando me elegeram, tive uma surpreendente sensação de paz dentro de mim”. Enfim, Francisco confidenciou à “La Stampa” que se sente como “um pároco. De uma paróquia muito grande, planetária, é claro, mas gosto de manter o espírito de um pároco. E estar entre as pessoas. Onde eu sempre encontro Deus”.

Fonte: Vatican News

Presidência da CNBB tem encontro como Papa Francisco

janeiro 17, 2024 / no comments

Presidência da CNBB tem encontro como Papa Francisco

 

 

O Papa Francisco recebeu na última semana, manhã da quinta-feira, 11 de janeiro, no Vaticano a presidência da CNBB: Dom Jaime Spengler, OFM (presidente), dom João Justino de Medeiro Silva (1º vice-presidente), dom Paulo Jackson Nóbrega de Souza (2º vice-presidente) e dom Ricardo Hoepers (secretário geral).

Dom Jaime nos estúdios da Rádio Vaticano

Em entrevista à Rádio Vaticano – Vatican News, dom Jaime falou sobre o encontro com o Papa Francisco, sobre a visita da presidência aos Dicastérios, sobre encontro com os responsáveis da Livraria Editora Vatican, LEV, do novo Missal Romano. Enfim, a expectativa para a missão da Conferência Episcopal para o ano que se inicia.

O encontro com Papa Francisco

Entre os nove compromissos que o Santo Padre tinha agendado para a manhã desta quinta-feira, um deles era com a presidência da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Um encontro que faz parte da tradição da presidência da Conferência Episcopal brasileira, pois anualmente ela é exortada a fazer este momento de fraternidade dialogo e de escuta com o Santo Padre. “Trouxemos ao Papa Francisco elementos que fazem parte da caminhada anual da Conferencia e o Santo Padre, com simplicidade, mas com muita determinação, nos oferece indicações e apresenta as alegrias que ele sente, a partir daquilo que vivemos no processo evangelizador da Igreja no Brasil, mas também aquilo que lhe preocupa e que ele tem uma preocupação particular”, disse dom Jaime.

Dom Jaime em encontro com o Papa Francisco.

A formação dos sacerdotes, como a importância do Pio Brasileiro em Roma, onde sacerdotes fazem seus estudos especializados para cooperarem nas diversas instâncias da vida eclesial foi também um assunto apresentado ao Papa. Francisco, por sua vez, pediu à Conferência atenção aos seminários. Recomendou que nenhum seminário tenha menos de 20 seminaristas, em vista da promoção da vida comunitária, que é uma das dimensões do processo formativo, estabelecida seja pela “ratio”, seja pelas diretrizes de formação dos presbitérios da Igreja do Brasil.

Ao caracterizar a Igreja do Brasil como uma Igreja que busca promover a comunhão e a fraternidade foi apresentado ao Papa o texto base da CF 2024 que trata da Fraternidade Social. “Ele ficou muito impressionado seja com a temática, porque é reflexo da Encíclica Fratelli tutti, resgatando e tentando promover a vida comunitária, e nestes tempos que estamos vivendo consequências de um esgarçamento do tecido social, a temática vem de encontro a um caminho de comunidade, reconciliação para a sociedade brasileira”, afirmou.

De acordo com dom Jaime, Francisco conhece muitíssimo bem a Igreja do Brasil e expressa um carinho todo especial pelo país. Dialogar com o Papa sobre ser Igreja no Brasil, afirma, “é muito fácil, porque ele conhece bastante bem, visitava com frequência e participou da Assembleia do episcopado latino-americano em Aparecida onde teve um papel de destaque. Conhece bem até porque estamos inseridos num contexto latino-americano”.

Dom Jaime se disse impressionado com a acolhida, o humor e a presença de espírito do Papa. Um Pontífice que se levanta muito cedo e sempre disposto a atender a todos com respeito.

Visita aos Dicastérios e à Livraria Editora Vaticana

Durante esses dias em Roma a presidência da CNBB teve vários encontros em vários Dicastérios da Cúria Romana. Encontros que fazem parte “dessa grande visita anual”, contou dom Jaime, ressaltando que a acolhida que receberam revela que a “Praedicate Evangelium” está penetrando nos ambientes. “Muita disposição sempre de ouvir com atenção para encontrar elementos onde o Dicastério possa nos ajudar em um ou outro âmbito, nas nossas alegrias e esperanças, desafios e dificuldades”.

Encontro com a LEV

Já sobre o encontro com a direção da Livraria Editora Vaticana (LEV), dom Jaime destacou que a sintonia entre as duas instituições são fundamentais para que as grandes orientações do magistério ordinário e os documentos dos diversos Dicastérios da Santa Sé, possam chegar o mais rápido possível ao povo e com uma qualidade que expresse a dignidade e a importância de tais documentos”.

A nova versão do Missal Romano

Dom Jaime falou ainda, sobre a nova versão do Missal Romano. Enfatizou que foram 19 anos de um trabalho intenso que merece reconhecimento. Um trabalho que não terminou porque faltam ainda a revisão dos Lecionários, da Liturgia das horas e dos diversos rituais e sacramentais. “Será um trabalho de folego que precisa continuar, porque aquilo que o Missal conserva de mais precioso é a lexis orandi da Igreja e nós rezamos aquilo que cremos. Fazemos votos que essa nova tradução do Missal Romano possa favorecer não só a vida litúrgica de nossas comunidades, mas também a vida comunitária no seu cotidiano.

Perspectivas para a Igreja do Brasil em 2024

Sobre as perspectivas para a Igreja do Brasil no ano que se inicia o presidente da CNBB afirmou que o que se deseja é que o processo de evangelização possa acontecer de uma forma sempre mais vigorosa e intensa. Que Evangelho do crucificado  e ressuscitado possa encontrar sempre mais incisão na vida das pessoas, dos fiéis, na vida social. “E só assim estaremos respondendo ao que o Senhor pede dos seus seguidores: vida, e promoção de vida em abundancia para todos e ao mesmo tempo neste espirito de cooperação, a fim de deixar o nosso mundo, a nossa Igreja ainda melhor para as futuras gerações”.

Ao ser questionado sobre o que diria ao povo brasileiro, dom Jaime recordou o Evangelho de Mateus que convoca cada cristão a ser sal da terra e luz do mundo em vista da transformação social.

Por fim, como presidente do Conselho Episcopal Latinoamericano (CELA), arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, está seguro das suas virtudes e fragilidades. É com elas que foi escolhido para estas tarefas na Igreja. “Pelas virtudes e qualidades que os irmãos viram em nós, gratidão e disposição de servir.” E ainda o pedido de misericórdia e perdão pelas fragilidades.

Visita da presidência da CNBB à Rádio Vaticano

Ouça a entrevista na íntegra:

Fonte: Vatican News