Imagem Sacra furtada em Piraí (RJ) é recuperada 17 anos depois em Tiradentes (MG)

abril 5, 2024 / no comments

Imagem Sacra furtada em Piraí (RJ) é recuperada 17 anos depois em Tiradentes (MG)

A Vara Única da Comarca de Piraí e a 94ª Delegacia de Polícia Civil da cidade, recuperaram no mês de março, uma imagem de ‘Sant’Ana Guia’ do século XVIII, furtada em 2007 da Igreja Matriz de Piraí (RJ). Ela foi encontrada no Museu de Sant’Ana, em Tiradentes (MG), e devolvida à Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, no Sul Fluminense. O anúncio do caso aconteceu nesta quinta-feira, 4, durante coletiva de imprensa, na Cúria Diocesana.

O mandado de Ação de Busca e Apreensão foi expedido pelo juiz Fellippe Bastos Silva Alves, da Vara Única da Comarca de Piraí. A execução ficou a cargo da Delegacia de Piraí, chefiada pelo delegado José de Moraes Ferreira, que determinou a Diocese como Fiel Depositário, no dia 7 de março de 2024.

Em 15 de janeiro de 2007, a imagem de Sant’Ana Guia foi furtada do interior da igreja e a ocorrência registrada no dia 16 de janeiro. Após o acontecimento, o bem foi cadastrado no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), à espera de informações sobre o caso.

O Bispo Diocesano, Dom Luiz Henrique, afirmou que o êxito alcançado foi resultado do trabalho conjunto das comissões da Cúria e dos órgãos competentes. “Estamos testemunhando um momento histórico para a nossa Diocese e, também, para a Paróquia de Sant’Ana, em Piraí. Em 2007, a imagem histórica de origem portuguesa foi furtada. Desde então, empenhamo-nos em todas as frentes para recuperá-la, registrando o furto e reconhecendo que a imagem estava tombada pelo INEPAC.

Estamos extremamente felizes por tê-la recuperado e devolvê-la à Igreja de Piraí, onde sempre deveria ter permanecido”, comentou o Bispo. “Com relação às investigações sobre a padroeira de Piraí, a imagem de Sant’Ana, tão logo tivemos informação de que ela havia sido reconhecida no museu em Tiradentes, procedemos a um pedido de busca e uma comunicação com a Diocese.

A Diocese, por meio de sua advogada, nos providenciou um laudo pericial em que ficou constatada a mesma imagem que foi furtada da igreja de Piraí e a imagem que estava em exposição no mencionado museu. Com o mandado de busca em mãos, contatamos o delegado da área. A santa foi apreendida e depositada imediatamente na Diocese. Quanto ao desdobramento das investigações, nos reservamos, uma vez que estas ainda estão em andamento”, disse o Delegado da 94ª Delegacia de Polícia Civil de Piraí, José de Moraes Ferreira.

Laudo técnico comprova a veracidade da imagem

Em laudo técnico realizado pela D’Gusmão Conservação e Restauração de Obras de Arte, a perita em artes sacras Elaine Gusmão analisa de forma comparativa os registros históricos e os dados provenientes do museu. No documento, ela reforça que a imagem é a mesma furtada em Piraí, com evidências de ter passado por um processo de remoção de repinturas, recuperando a policromia original.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) confirmaram a veracidade do laudo técnico apresentado pela Diocese.

Os documentos podem ser acessados aqui

Como a imagem foi encontrada?

Todos os anos, a Igreja de Sant’Ana prepara a festa da padroeira, que ocorre no dia 26 de julho. Uma série de programações é elaborada e, para sua divulgação, são produzidos cartazes, panfletos e camisetas. Em 2023, a equipe organizadora estava à procura de imagens em formato digital para a produção dos materiais da festa e, durante uma pesquisa na internet, encontrou a foto da imagem de Sant’Ana Guia no museu de Tiradentes. Para surpresa de todos, a imagem possuía muitas semelhanças com aquela furtada em 2007.

Depois disso, a Paróquia procurou a Cúria Diocesana para informar o fato e um comitê interno ficou responsável por buscar profissionais especializados em obras sacras. Um laudo independente foi elaborado e apontou se tratar da imagem que desapareceu da igreja em 2007.

Com as informações, o Padre Daniel Cezar, Chanceler da Diocese, e a Advogada da Cúria Diocesana, Lucila Gouveia, foram à 94ª Delegacia da Polícia Civil de Piraí para relatar o caso. Os desdobramentos ocorreram ao longo de vários meses e culminaram no retorno da imagem no dia 7 de março de 2024.

A Igreja Matriz de Sant’Ana, em Piraí

Localizada no centro de Piraí, a igreja foi construída no século XIX. É tombada pelo município desde 2005 e pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac), juntamente com seu acervo, desde 2018.

O retorno da imagem para a Igreja de Piraí

A imagem de Sant’Ana Guia retornará para a Igreja Matriz no dia 14 de abril. O retorno ocorrerá às 18 horas na prefeitura municipal, com a presença de autoridades locais e fiéis, sendo em seguida encaminhada para a Igreja Matriz com a realização de Santa Missa, presidida pelo Bispo Diocesano, Dom Luiz Henrique.

Participantes da Coletiva de Imprensa

Participaram da coletiva o Bispo Diocesano, Dom Luiz Henrique; o Vigário-Geral, Monsenhor Alércio de Carvalho; o Chanceler da Cúria, Padre Daniel Cezar; o Pároco da Paróquia Sant’Ana, de Piraí, Padre Márcio Mendes; a Advogada da Mitra Diocesana, Lucila de Almeida Gouveia e o Delegado da 94ª Delegacia de Polícia Civil de Piraí, José de Moraes Ferreira.

Reveja a seguir coletiva de Imprensa:

Furtada há 47 anos, imagem histórica de Rei Davi é recuperada pela Diocese de Duque de Caxias

setembro 21, 2021 / no comments

Furtada há 47 anos, imagem histórica de Rei Davi é recuperada pela Diocese de Duque de Caxias

Assim como na literatura bíblica, as imagens sacras do Rei Davi e de sua amada Betsabéia, mãe do Rei Salomão, passaram por maus momentos. Furtadas da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar em 1974, as esculturas seguiram destinos diferentes e ficaram desaparecidas por mais de quatro décadas até serem localizadas em acervos de colecionadores.

A primeira escultura recuperada foi a da a rainha consorte de Israel – Betsabá – esposa do rei Davi e mãe do rei Salomão. Agora foi a vez da imagem do Rei Davi. Ambas as obras foram executadas na primeira metade do Século XVIII e possuem características do barroco joanino, em madeira policromada e douramento, com cerca de 1,20m de altura. Juntas, essas imagens formam um conjunto escultórico pertencente ao altar-mor da igreja histórica localizada no bairro Pilar em Duque de Caxias (RJ).

Dom Tarcisio (centro) com os membros da Comissão Diocesana para os Bens Culturais e a escultura recuperada.

Características da imagem sacra

Elaine Gusmão, especialista em História da Arte e membro da Comissão para os Bens Culturais e Patrimônio Histórico da Diocese de Duque de Caxias, é quem nos conta sobre as especificidades dessas obras. “O estilo barroco é caracterizado pela grandiosidade, teatralidade e representações visuais das imagens, que nasceu para atuar como instrumento de afirmação e persuasão da fé cristã. As imagens auxiliavam na catequização dos fiéis, que não tinham acesso aos textos da Bíblia. A transcendência estética das obras fortalecia os ensinamentos religiosos através do encantamento dos devotos com a beleza artística. A imagem foi confeccionada em “escorzo”, que é a alteração intencional das proporções anatômicas, técnica utilizada pelos artistas para corrigir a perspectiva, uma vez que seriam vistas de longe e de baixo para cima.”

Alta-mor com as imagens recuperadas em destaque

Simbolismo

A especialista nos conta ainda que “a iconografia do conjunto escultórico representa a passagem da Bíblia presente em 2 Samuel 11,2-5:  “Uma tarde Davi levantou-se da cama e foi passear pelo terraço do palácio. Do terraço viu uma mulher muito bonita tomando banho, e mandou alguém procurar saber quem era ela. Disseram-lhe: ‘É Betsabá, filha de Eliã e mulher de Urias, o hitita’. Davi mandou que a trouxessem, e se deitou com ela, que havia acabado de se purificar da impureza da sua menstruação. Depois, voltou para casa. A mulher engravidou e mandou um recado a Davi, dizendo que estava grávida”.

Buscas, identificação e retorno

O rastreamento e localização das imagens sacras furtadas dos nossos templos, principalmente da Igreja do Pilar, fazem parte de um esforço permanente da Diocese de Duque de Caxias, em conjunto com o Ministério Público, e que envolve ainda, os esforços da Polícia Federal e do Poder Judiciário. No caso específico da imagem do Rei Davi, foram feitas houve buscas em leilões de arte, livros de arte e catálogos. A escultura foi identificada, em 2015, no livro “O Aleijadinho: Catálogo Geral da Obra: Inventário das Coleções Públicas e Particulares”, obra de autoria de Márcio Jardim, Herbert Sardinha Pinto e Marcelo Coimbra, lançado em 2011. A imagem encontrava-se em uma coleção particular no Estado de São Paulo.

Igreja do Pilar

Um dos primeiros bens tombados do país, em 1938, apenas um ano após a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar foi construída no início do século XVIII nas margens do antigo porto do Pilar do Iguaçu, sendo a sede religiosa de uma das freguesias mais ricas da região durante o ciclo do ouro, pois situava-se num dos caminhos para as Minas, porém com a abertura de uma nova estrada que fazia cumpria o mesmo trajeto de maneira mais célere fora abandonado, levando a freguesia à decadência.

De rara beleza e ornada em ouro, a igreja histórica passou por muitos furtos, tendo grande parte do seu acervo saqueado, entre os quais a imagem de Nossa Senhora do Pilar, padroeira diocesana, que ainda encontra-se desaparecida.

Fachada da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar em restauração.

Atualmente o templo encontra-se em processo de restauração para a realização do reforço da infraestrutura, descupinização, recuperação dos bens móveis integrados e a conservação dos elementos artísticos. Inicialmente com previsão de entrega para dezembro de 2020, devido a pandemia da COVID-19, foi necessária uma readequação no prazo de conclusão das obras. Mas em breve os fiéis poderão voltar a participar das missas e celebrações no templo fechado há 7 anos.

 

Colaboração: Comissão para os Bens Culturais e Artes Sacras e Assessoria de Comunicação da Diocese de Duque de Caxias