Quando em 26 de março 1960, o saudoso Papa São João XXIII, criava a Diocese de Nova Iguaçu, através da Bula QuandoquidemVerbis, já havia nessas terras da Baixada Fluminense uma forte presença da Igreja. Hoje celebramos seus 60 anos. A criação da Diocese possibilitou estruturar melhor e, assim, dar mais consistência à ação evangelizadora na região. Por outro lado, poder chamar de “nossa” a missão, compromete a um empenho maior e a olhar de perto os desafios que nas diversas horas da história se apresentam.
Desde as suas origens, a nossa Diocese conheceu a dedicação apaixonada de homens e mulheres, que compreenderam imediatamente que a ação da Igreja aqui devia estar muito próxima das lutas e dores de nossa gente, para levar-lhes a novidade cheia de esperança do Evangelho. Por isso, junto com o imprescindível anúncio da pessoa de Jesus e seu de seu Reino,a obra da evangelização sempre teve presente a colaboração no desenvolvimento humano e social do lugar, uma vez que, como diz Santo Irineu, “a glória de Deus é o homem vivo”.
A memória dos primeiros evangelizadores não se perdeu, mas ganhoureconhecimento e projeção em nomes de ruas e outras referências que fazem parte da vida das cidades da Baixada Fluminense. A sua memória se perpetua porque sua dedicação sacerdotal e cristã alcançou o coração de tantas pessoas e deixou marcas na vida concreta de nossa gente. Além disso, não se pode deixar de recordar os inúmeros anônimos que foram seus colaboradores e que, na simplicidade de sua condição, deram vida a projetos que nasciam dos ideais de uma inspiração evangélica autêntica.
Celebrar 60 anos é fazer memória agradecida dos cristãos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e multidões de leigos e leigas, de ontem e de hoje, que testemunharam e testemunham sua fé na nossa amada Baixada.É também retornar às fontes de sua inspiração para responder aos desafios que hoje se colocam à missão, em um contexto completamente novo, de uma verdadeira mudança de era como a que estamos vivendo.
Celebramos estes 60 anos no período da Quaresma e, nela, da Campanha da Fraternidade, que neste ano nos convida a inspirar-nos nas atitudes do Bom Samaritano do Evangelho: “viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. As pautas de nosso compromisso dos 60 anos são aquelas indicadas pelo Papa Francisco: ser Igreja em saída, missionária, e também samaritana, que não fica indiferente diante da solidão e da dor de tantos que vivem perto de nós.
Não podemos negligenciar dirigir um olhar para a atual situação pandêmica que nos obrigou a rápidas mudanças e a adaptações, sempre na perspectiva de ser uma Igreja em saída e que procura viver a sua vocação de ser presença junto a todos e, especialmente, aos mais pobres e sofredores.Os últimos acontecimentos exigem ainda mais uma Igreja mais perto das pessoas, e, concretamente, no lugar onde elas se encontram.
As recentes Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, nos impelem a ser presença, através das comunidades eclesiais missionárias que têm na “casa”a sua inspiração mais forte. As próprias circunstâncias estão nos fazendo valorizar a casa não apenas como lugar seguro, mas também como a Igreja doméstica, que se reúne pelas casas.
Horizontes para a nossa missão não faltam. Queremos fazer jus ao testemunho dos irmãos que nos precederam e seguir adiante, discernindo melhor nosso modo de testemunhar a esperança sempre necessária neste tempo de importantes desafios religiosos, culturais e sociais, encontrando caminhos novos, que correspondam aos anseios e necessidades dos homens e mulheres do nosso tempo. Empenhemo-nos nas propostas planejadas para a vida de nossa Diocese neste ano.
Nossa Senhora da Piedade, primeira grande luz acesa no coração dos fiéis de nossa Diocese, nos inspire atitudes para sustentar a todos aqueles e aquelas que, à semelhança do seu Filho, tombam nas suas lutas e esperam testemunhas da esperança que os ajudem a não desistir de seguir caminhando.
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.