Conta-se que um homem, certa vez, se perdera numa densa floresta. Em pleno dia, pouco podia enxergar, pois o sol já não penetrava o interior da selva devido à densidade das folhas das árvores. Antes da noite cair, porém, apavorado pelo pensamento da escuridão que se aproximava, lembrou-se de que em sua mochila trazia uma vela e uma caixa de fósforos. Alegrou-se por um instante por aquela singela “salvação” que lhe alcançara. Ao cair a noite, acendeu a sua vela e seguiu o seu caminho. Tão tenso estava que não conseguia deixar de andar. Assim, caminhou uma noite inteira até que o sol despontou. Ele, no entanto, conservava a vela acesa, apesar da luz do sol clarear já a região que era menos densa de floresta. A pequena luz na mão já não iluminava nada, mas ele havia se apegado à sua pequena segurança.
Esta história veio-me à memória precisamente neste 1º domingo do Advento, quando o ciclo das celebrações litúrgicas inaugura um novo tempo, marcado pela preparação para a vinda de Jesus no Natal e recordando também aquela vinda prometida para o final dos tempos.
Uma luz grande contrasta a luz pequena das nossas certezas e dos nossos costumes. Na noite de Natal, durante a chamada Missa do Galo, se lê um trecho do profeta Isaías onde se diz que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9, 2). O tema da luz é bem presente tanto tempo do Advento quanto no Natal. Além das várias menções nos textos bíblicos e das orações da liturgia, pensemos, por exemplo, nas árvores iluminadas pelos pisca-piscas; na coroa do Advento, com suas 4 grandes velas, marcando o ritmo das semanas de preparação; nas luzes que adornam as fachadas das Igrejas, casas, e lojas, etc.
Acendemos nossas luzes porque queremos superar as trevas que nos cercam. Cada um conhece bem a sua necessidade de iluminar a própria vida e o próprio ambiente. Deus nos oferece uma Luz maior. Trata-se da sua presença em meio às trevas do mundo. Esta luz foi acesa no primeiro presépio da história, aquele real, da cidade de Belém. O carinho de Maria e de José aqueceram o ambiente frio da gruta e Deus ofereceu a Luz que ilumina o mundo inteiro.
Essas 4 semanas que antecedem o Natal são preparatórias para acolher a Luz maior que com que Deus deseja nos presentear, o seu próprio Filho Jesus Cristo. Ele, em pessoa, deseja nos visitar.
De muitas formas, como cristãos, desejamos reproduzir essa visita. O Natal não é apenas um fato histórico, recluso no passado. Ele está em ação hoje. Deus continua visitando e iluminando a vida das pessoas hoje. Por isso, queremos nos preparar.
Entre tantas propostas, vamos pelas casas rezando a Novena de Natal. Queremos agasalhar com o calor de nossos corações aqueles e aquelas que se encontram sozinhos e esquecidos. Renovaremos, como Diocese de Nova Iguaçu, o nosso gesto concreto de oferecer às crianças do hospital da Posse, o leite em pó que serve de sustento ao longo do ano. Multiplicaremos tantos sinais da presença terna de Deus no nosso meio. Como Maria e José encontraremos lugar para que Jesus possa ser acolhido na pessoa do irmão com fome, sede, nu, doente, prisioneiro, estrangeiro, multiplicando tantas iniciativas de caridade.
A melhor preparação para o Natal é o coração aberto para acolher o dom de Deus, Jesus, que se manifesta na fragilidade de uma criança precisada de proteção. São tantas as fragilidades de nosso tempo e tantas as boas possibilidades do coração humano. Através da oração e da caridade esforcemo-nos para preparar o melhor Natal de nossas vidas. Junte-se a outros que querem iluminar o mundo com a Luz que Deus oferece, pois juntos se pode preparar uma festa melhor e acender uma luz ainda maior. Bom tempo de Advento!
Artigo de dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB