Montar presépios

dezembro 15, 2019 / no comments

 

Recordo-me, no primeiro Natal que passei em Salvador, recém-chegado como bispo auxiliar à Sé Primacial do Brasil, a prefeitura da cidade havia assumido uma ideia do arcebispo de colocar, numa das vias principais, a “Avenida Paralela”, um enorme presépio, com personagens bem expressivos. Os transeuntes logo se davam conta daquela realidade diferente e nova que se erguia em plena avenida, movimentadíssima pelo vai e vem dos veículos. Não demorou muito para que virasse atração da capital baiana, naqueles poucos dias de preparação para o Natal e depois da festa também. Lembro-me de ver várias famílias, com seus filhos pequenos, passeando por entre as imagens, como se fossem um personagem a mais.

O presépio, de alguma forma, tem a graça de introduzir as pessoas no acontecimento extraordinário do nascimento do Filho de Deus entre nós. Com muita facilidade nos sentimos bem à vontade ao reunirmos as distintas figuras que compõem o cenário do nascimento de Jesus em Belém.

Recentemente, o Papa Francisco, ofereceu-nos uma bela Carta Apostólica, com o título de “Admirável sinal” (Admirabile signum, em latim – AS), precisamente sobre este símbolo que é um dos mais tocantes desse tempo. Com ela quis o Papa “apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças” (AS, n. 1).

De fato, tenho reparado que ultimamente, embora ainda de forma tímida, o número de presépios tem crescido. Por esses dias, deparei-me com um bem expressivo num dos shoppings da cidade. A reação das pessoas é quase sempre a mesma, deter-se para contemplar a cena, introduzir-se no contexto, convidar as crianças a tomarem parte. Não acabamos de nos acostumar com a maravilha do amor de Deus que manifesta sua presença em meio à simplicidade da vida da família, à pobreza e à indiferença dos seres humanos.

O presépio nos ajuda a resgatar o verdadeiro sentido do Natal e a superar a tendência consumista que tende a reduzi-lo simplesmente à festa do trocar presentes. O Natal é a festa de Deus presente, Deus conosco, Deus feito homem na fragilidade de uma criança nascida em condições de extrema pobreza.

Na Carta acima mencionada, o Papa manifestava o seu desejo de “que esta prática nunca desapareça; mais ainda, espero que a mesma, onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar” (Ibidem).

Não se trata simplesmente de uma necessidade da memória, mas da tradução de uma mensagem que alcança a humanidade inteira em todas as circunstâncias tão variáveis da história. Montar o presépio “ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais”(AS, n. 3). Não importam de que são feitas as figuras. Por esses dias, numa visita ao DEGASE, deparei-me com um presépio muito expressivo, de origami, sobre uma cartolina, preso à parede. Bastou aquela singela representação para que os bons sentimentos natalinos estivessem presentes.

Que ao montar o presépio, acolhamos de Jesus o “apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e […] ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados” (Ibidem).

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu (RJ) e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

O presépio

dezembro 11, 2019 / no comments

 

 

Já estamos no Advento, tempo da “bela tradição das nossas famílias prepararem o Presépio, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças” …: é assim que começa a recente Carta Apostólica “Sinal Admirável”, com que nos brinda o Papa Francisco, sobre o presépio:

“Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. O Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, ‘teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria’ (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: ‘Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento’. Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária”.

A ideia dessa representação é atribuída a São Francisco de Assis: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro”… “O Presépio é um convite a ‘sentir’, a ‘tocar’ a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados”.

“‘Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer’ (Lc 2, 15) …: os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida… Pouco a pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo… Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José… É o guardião” … “O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços… Em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor” …

 

Artigo de Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal de São João Maria Vianney