Papa: rezemos pelo grito da Terra, que está com “febre e doente”

setembro 6, 2024 / no comments

Papa: rezemos pelo grito da Terra, que está com “febre e doente”

 

A intenção de oração do Papa Francisco para setembro é pelo grito da Terra, que “tem febre e está doente, como qualquer doente”. É um forte apelo para “fazer frente às crises ambientais provocadas pelo homem” e enquadra-se no chamado Tempo da Criação, época do ano em que a Igreja tradicionalmente se mobiliza para refletir sobre o cuidado da casa comum.

Na sua vídeo-mensagem, que a Rede Mundial de Oração do Papa realizou este mês com o apoio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Francisco pregunta-se se “ouvimos” o grito da Terra, a dor de milhões de vítimas de catástrofes ambientais, e pede à humanidade “respostas não só ecológicas, mas também sociais, económicas e políticas”.

O Homem e a criação

Furacões, incêndios, maremotos, secas, degelo dos glaciares: o grito da Terra, narrado em O Vídeo do Papa de setembro, ouve-se cada vez mais. As imagens que acompanham as palavras do Papa Francisco mostram os efeitos da crise climática nos seres humanos: pessoas que fogem das catástrofes ambientais, aumento da emigração devido aos efeitos do clima e crianças obrigadas a viajar dezenas de quilómetros à procura de um pouco de água. “Os que mais sofrem com as consequências destes desastres – denuncia Francisco – são os pobres, os que são obrigados a abandonar as suas casas devido a inundações, vagas de calor ou secas”.

As preocupações do Papa são confirmadas por estudos fidedignos: segundo o Fórum Económico Mundial, os países com rendimentos menores produzem um décimo das emissões, mas são os mais afetados pelas alterações climáticas. Estima-se que, até 2050, as alterações climáticas descontroladas obrigarão mais de 200 milhões de pessoas a migrar dentro dos seus próprios países, empurrando ao mesmo tempo 130 milhões de pessoas para a pobreza.

A luta contra a pobreza e a proteção da natureza são, para Francisco, dois caminhos paralelos, que devem ser seguidos da mesma forma: “alterando os nossos hábitos pessoais e os da nossa comunidade”. O homem, vítima da crise ambiental, pode, por isso, ser também o arquiteto da mudança, e as imagens de O Vídeo do Papa demonstram-no: da gestão dos resíduos à mobilidade, passando pela agricultura e pela própria política, há muito que fazer e tudo depende de nós. Porque o destino do homem e o destino da criação – como reiterou o Papa Francisco no seu Pontificado, primeiro com a encíclica Laudato si’ (2015) e depois com a exortação apostólica Laudate Deum (2023) – não podem ser separados.

Espera e age com a Criação

Estas reflexões estão também em sintonia com a mensagem do Papa para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação 2024, cujo tema deste ano é uma reflexão teológica inspirada na Carta aos Romanos: “Espera e age com a criação”. “A salvaguarda da criação não é apenas uma questão ética, mas é eminentemente teológica: na realidade, diz respeito ao entrelaçamento entre o mistério do homem e o mistério de Deus”, reflete o Papa na sua mensagem e acrescenta: “Nesta história, não está em jogo apenas a vida terrena do homem, está sobretudo em jogo o seu destino na eternidade”.

O Tempo da Criação – uma iniciativa do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral que promove a celebração da vida e a proteção da criação de Deus – terá início no próximo dia 1 de setembro e terminará no dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia.

Foi precisamente o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral que colaborou no Vídeo do Papa deste mês. O seu Prefeito, o Cardeal Michael Czerny, diz: “A criação geme. O seu sofrimento é causado pelo homem, originalmente guardião e agora dominador, que ‘arrogantemente coloca a Terra numa condição desonrosa, isto é, privada da graça de Deus’. Contudo, na sua Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, o Santo Padre convida-nos, como cristãos, a esperar e a agir com a Criação, o que poderíamos traduzir como viver na Fé. Trata-se de escutar o Espírito Santo, que é amor, não só para com o próximo, mas também para com a Criação, que é obra de Deus e, por isso, está interligada com o homem. Só libertando a Terra da condição de escravidão a que a submetemos, seremos também livres, antecipando a alegria da salvação em Cristo. ”

Escutar o grito da criação

O Padre Frédéric Fornos S.J., Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, reflete: “A Terra grita. Juntamente com o grito da terra, ouvimos também o grito das vítimas das calamidades ambientais e das alterações climáticas, cujo impacto afeta de forma mais aguda e direta os países com menos recursos. Não viremos a cabeça, não sejamos indiferentes. Não viremos a cabeça, não sejamos indiferentes. Dêmos nomes e rostos às calamidades e aos dramas vividos em muitos países, recordando estes dois últimos anos: os imensos incêndios florestais no Canadá, que devastaram milhões de hectares e obrigaram milhares de pessoas a deixar as suas casas; os incêndios devastadores na Austrália, que mataram milhões de animais e destruíram habitats naturais; as inundações catastróficas no Paquistão, que submergiram um terço do país, provocando centenas de mortos e milhões de pessoas deslocadas; as inundações repentinas na Alemanha e na Bélgica, que ceifaram vidas e destruíram infraestruturas; a seca severa na Amazónia, ameaçando a biodiversidade única desta região; as ondas de calor extremo na Índia, que causaram centenas de mortes e condições de vida insustentáveis ​​para milhões de pessoas; os furacões devastadores nos Estados Unidos e nas Caraíbas, causando destruição maciça e perdas humanas. A Terra grita. A pandemia, como um comboio de alta velocidade obrigado a parar por um momento no meio do campo, poderia ter sido um momento para ouvir, para verificar se sabemos para onde vamos, para reorientar a nossa sociedade, a nossa vida, antes que seja tarde demais, para proteger a nossa casa comum…, mas tantos interesses nos cegam. O Papa Francisco convida-nos a rezar, porque só a oração pode despertar os nossos corações anestesiados. ”

Assista o “Vídeo do Papa” na íntegra:
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Junho Verde: Campanha dedicada a proteção do Meio Ambiente

junho 6, 2024 / no comments

Junho Verde: Campanha dedicada a proteção do Meio Ambiente

 

No mês de junho a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convoca a todos a voltarem à atenção para a Campanha Junho Verde, um período dedicado à conscientização sobre a importância da preservação dos ecossistemas naturais e de todos os seres vivos.

A Campanha, de motivação da CNBB, foi estabelecida pela Lei 14.393/2022, que altera a Política Nacional de Educação Ambiental e institui a celebração do mês temático como parte das atividades educativas na relação com o meio ambiente. O texto foi sancionado no dia 4 de julho.

O Junho Verde acontece também no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho. E durante todo o mês são trabalhadas atividades de incentivo à conscientização e à proteção do meio ambiente.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG)

O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e ex-presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, um dos idealizadores da proposta da Campanha, concedeu entrevista ao portal da CNBB e avaliou como o Junho Verde tem incentivado a realização de ações práticas e educativas para o cuidado com a Casa Comum, na perspectiva da ecologia integral.

Confira a entrevista na íntegra:

Como o senhor avalia o Junho Verde após este tempo da Lei em vigor?
A Campanha Junho Verde é uma vitória da sociedade brasileira, alcançada com o dedicado trabalho de nossa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Uma conquista a ser comemorada, mas que exige, permanentemente, avanços, pois a Campanha é permanente interpelação: todos – o poder público, escolas, igrejas, empreendedores, sociedade civil – são chamados a reconhecer a própria responsabilidade na necessária mudança de rumo para salvar o planeta. A humanidade precisa adotar novo estilo de vida, mais coerente com os princípios da ecologia integral, capaz de garantir o desenvolvimento econômico sustentável. Para isso, deve ser amadurecida a consciência sobre a interdependência entre todos os elementos que integram o planeta. De iniciativas simples às mais complexas, que envolvem grande parcela da população, o Junho Verde precisa inspirar uma reação educativa capaz de debelar insensibilidades diante da responsabilidade humana nos desastres climáticos e nas tragédias socioambientais.

O que ainda é necessário fazer para tirar a lei do papel?
A Lei vai se tornar cada vez mais eficaz quando os cidadãos exigirem de seus governantes mais compromisso com a salvaguarda dos bens naturais. Para isso, cada pessoa deve avançar na compreensão de que os recursos naturais devem ser adequadamente cuidados, bem geridos, nunca explorados predatoriamente. Não se deve esperar apenas das instâncias do poder ações capazes de incentivar o compromisso cidadão com o meio ambiente. Igrejas, escolas e outras instituições da sociedade civil têm papel relevante na formação educativa que inspire adequado exercício da cidadania diante das crises socioambientais. Quando a cidadania é qualificadamente exercida, o poder público é interpelado a agir de modo mais célere, oferecendo respostas essenciais às demandas mais urgentes da sociedade.

A partir dessa perspectiva, nossa arquidiocese de Belo Horizonte promove, constantemente, um conjunto de iniciativas para sensibilizar as pessoas sobre a importância do cuidado com o semelhante e o planeta. Desde 2020, organizamos Romarias pela Ecologia Integral, peregrinando a Brumadinho, cidade que, em 2019, ficou marcada pelo rompimento da barragem com rejeitos de mineração. As Romarias também são vividas em junho, no horizonte do Junho Verde, sempre em um lugar que inspira mais cuidados para a manutenção do equilíbrio socioambiental. Outra iniciativa em nossa Arquidiocese foi a instituição da Casa de Francisco, em uma área de rica biodiversidade. A Casa recebe alunos de escolas públicas para uma programação educativa que partilha saberes relacionados à defesa do meio ambiente.

Qual a relação desta lei com o magistério da Igreja/Papa Francisco?
A Campanha Junho Verde tem fundamento essencial no magistério do Papa Francisco, que magistralmente ensina, à luz da fé: a Criação de Deus deve coabitar o planeta em harmonia. Portanto, tudo que está em desarmonia com o equilíbrio da Criação está na contramão da vontade de Deus. A Carta Encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado com a casa comum e, posteriormente, a Exortação Apostólica Laudate Deum oferecem uma profunda compreensão a respeito da grave crise que a casa comum atravessa, possibilitando a cada um enxergar que não é possível existir humanidade saudável em um planeta adoecido. O Papa Francisco sempre ressalta que as crises ambiental e social, com tantas pessoas sofrendo, são indissociáveis, tornando mais adequado compreendê-las como um mesmo desafio socioambiental. Com simplicidade, nosso amado Pontífice revela, assim, a complexidade do momento que atravessamos, ensinando que o cuidado com o planeta é exigência cidadã e, ao mesmo tempo, compromisso de fé daqueles que creem no Deus-Criador.

Acesse os materiais da Campanha (aqui).

Fonte: CNBB