“Momento de autêntica democracia” – Nota do Regional Leste 1 – CNBB sobre as Eleições 2022

abril 11, 2022 / no comments

“Momento de autêntica democracia” – Nota do Regional Leste 1 – CNBB sobre as Eleições 2022

 

Os arcebispos e bispos do Estado do Rio de Janeiro, Regional Leste 1 – CNBB, emitem Nota Oficial sobre as Eleições 2022. Na mensagem, os pastores da Igreja Católica fluminense deixam claro que a Igreja não se identifica com qualquer partido político ou ideologia, mas, não pode ficar a margem na luta por justiça. Reafirmando a importância das Eleições no pleno exercício da democracia e apontando caminhos, fundamentados no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja, para o processo de decisão da escolha dos candidatos e candidatas que serão os nossos futuros representantes nos Poderes Executivo e Legislativo. “Num autêntico Estado Laico é legitimo que entidades e grupos tenham e explicitem seus critérios de discernimento em vista da escolha do voto”, diz a nota.

Leia a seguir a Nota do Regional Leste 1 – CNBB sobre as Eleições 2022 ou clique aqui para ler e fazer o download do PDF do Documento.

 


 

 

NOTA DO REGIONAL LESTE 1 – CNBB SOBRE AS ELEIÇÕES 2022

 

“O fruto da justiça é semeado na paz,
para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)

 

Nós, bispos católicos do Estado do Rio de Janeiro, Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, somos conscientes de que, como sucessores dos Apóstolos, nos cabe uma particular responsabilidade de anunciar explícita e integralmente Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). À luz desse anúncio fundamental, neste ano eleitoral, oportunamente reafirmamos que a Igreja “não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político” (56ª Assembleia Geral, Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao Povo de Deus, Aparecida, 19 de abril de 2018). A Igreja “não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça” (Papa Bento XVI – Deus Caritas Est, 28). E do Evangelho nos vem a consciência de que “todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183).

Eleições são ocasiões de exercício da democracia que requerem dos candidatos e candidatas propostas e projetos pautados pela justiça e pela paz social. Essa é “uma obra que nos pede para não esmorecermos no esforço por construir a unidade da nação e – apesar dos obstáculos, das diferenças e das diversas abordagens sobre o modo como conseguir a convivência pacífica – persistirmos na labuta por favorecer a cultura do encontro, que exige que, no centro de toda a ação política, social e econômica, se coloque a pessoa humana, a sua sublime dignidade e o respeito pelo bem comum” (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 232).

Num autêntico Estado Laico é legitimo que entidades e grupos tenham e explicitem seus critérios de discernimento em vista da escolha do voto. A Igreja também tem o direito e o dever de o fazer, e o faça a partir do Evangelho e da Doutrina Social. Sendo assim, exortamos todos os cristãos católicos e pessoas de boa vontade a identificar candidatos e candidatas que tenham compromisso claro com os princípios do Bem Comum, da dignidade da pessoa humana, da defesa integral da vida – desde a sua concepção até a morte natural –, incluindo o respeito e a promoção da democracia e dos direitos humanos e sociais, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento integral, social e econômico. Recordamos ainda a “Lei da Ficha Limpa” (Lei Complementar nº 135, de 04 de junho de 2010), referencial no combate à corrupção e à sonegação. Os candidatos e candidatas portadores desses princípios merecem o nosso voto.

O Estado do Rio de Janeiro necessita de especial atenção para que ocorrências climáticas não continuem causando catástrofes e sofrimentos. A promoção da educação pública de qualidade e o combate à violência são também prioritários. É necessário construir um projeto de Estado, profundamente ligado à nação brasileira, que não seja interrompido com a sucessão dos Governos.

Um saudável clima de comunicação e troca de informações é instrumento eficaz para o discernimento em vista do voto. Ao promover esse clima, é preciso ter presente que a concórdia e o respeito pelas opiniões diferentes preservam a harmonia em nossas famílias, paróquias, comunidades, pastorais e círculos de amizade. Recordamos vivamente que nos espaços da Igreja e durante as atividades litúrgicas e pastorais não deve ser feita política partidária nem indicação de candidatos específicos. Isso gera divisão na comunidade. É preciso promover a fraternidade e ajudar a prevenir divisões e polarização.

Não podemos deixar de alertar para o perigo das fakenews, já presentes neste período pré-eleitoral, com tendência a se proliferarem por ocasião das Eleições. Elas têm causado graves prejuízos à democracia. No uso das redes sociais, é preciso ter consciência de que o repasse de mensagens implica responsabilidade moral e jurídica.

No exercício dos direitos e deveres democráticos, é preciso dar atenção não só aos cargos majoritários (Presidente da República e Vice-Presidente, Governador do Estado e Vice-Governador), mas também à composição das casas legislativas (Senadores, Deputados Federais e Deputados Estaduais).

Na esperança de que, nas Eleições 2022, possamos viver um momento de autêntica democracia, pedimos que o Senhor conceda aos membros de nossa sociedade a determinação de buscarmos juntos “a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro Bem Comum”. (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 154).

 

Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, invocamos sobre todos e todas as bênçãos de Deus.

 

Rio de Janeiro, abril de 2022.

 

 

Dom José Francisco Rezende Dias

Arcebispo Metropolitano de Niterói
Presidente do Regional Leste 1 – CNBB

Dom Gilson Andrade da Silva

Bispo de Nova Iguaçu
Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB

Dom Tarcisio Nascentes dos Santos

Bispo de Duque de Caxias
Secretário do Regional Leste 1 – CNBB

 

 

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist., Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro

Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal de São João Maria Vianney

Dom Gregório Paixão, OSB, Bispo de Petrópolis

Dom José Ubiratan Lopes, OFM. Cap., Bispo de Itaguaí

Dom Luiz Antônio Lopes Ricci, Bispo de Nova Friburgo

Dom Luiz Henrique da Silva Brito, Bispo de Barra do Piraí – Volta Redonda

Dom Nelson Francelino Ferreira, Bispo de Valença

Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, Bispo de Campos dos Goytacazes

Dom Antônio Augusto Dias Duarte, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Antônio Luiz Catelan Ferreira, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Célio da Silveira Calixto Filho, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Juarez Delorto Secco, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Paulo Alves Romão, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Paulo Celso Dias do Nascimento, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Roque Costa Souza, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Dom Zdzislaw Stanislaw Blaszczyk (Tiago), Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

 


 

 

As eleições e os pobres

novembro 15, 2020 / no comments

As eleições e os pobres

Pelo 4º ano consecutivo, acolhemos a proposta do Papa Francisco de celebrar o Dia Mundial dos Pobres, que este ano tem como tema a exortação de Ben Sirac: “estende a tua mão para o pobre”(Eclo 7, 32). Trata-se de uma iniciativa inspirada pela celebração do Jubileu da Misericórdia (anos 2015-2016) e que ocorre sempre no domingo anterior à celebração da solenidade de Cristo Rei do Universo.

Em nossa Diocese de Nova Iguaçu fomos ao longo da semana, testemunhando nas redes sociais como, concretamente, temos estendido as mãos para a pobreza que se manifesta nos rostos de crianças, adolescentes, jovens, idosos, famílias e na área da saúde. O Dia dos Pobres nos compromete com eles não apenas um dia, mas é um compromisso que, por força da própria experiência de fé, assumimos todos os dias.

No Evangelho, quando Judas reclama com Jesus da atitude da mulher, que quebrara um frasco de alabastro, contendo perfume raro e caro, para ungir os pés de Jesus em vez de oferecer o dinheiro aos pobres, ele respondeu: “pobres sempre tereis convosco” (Jo 12, 8). A palavra do Mestre é comprovada pela própria experiência da Igreja, que sempre procurou acolher, em meio às vicissitudes da história, o conselho de São Pedro a São Paulo de “não esquecer dos pobres” (Gal 2, 10).

Na Mensagem do Papa Francisco para esta ocasião, recorda-se que “a pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40)”.

O tema deste ano é uma proposta bem concreta: estender a mão. Trata-se de “um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor” (Francisco). O encontro com uma pessoa em situação de especial pobreza não pode continuar a nos deixar indiferentes. Ao contrário, conforme insiste o Papa na sua mensagem, o “clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade”.

Uma consciência reta necessariamente se coloca perguntas diante de situações que privam o irmão de sua dignidade mais elementar: “Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-lo na sua pobreza espiritual?”

Este ano a celebração coincidiu, no Brasil, com as eleições municipais. Uma feliz coincidência,pois pode oportunizarum examedeconsciência, tanto para eleitores como para os que se apresentam como candidatos para mais este pleito eleitoral, sobre o lugar dos pobres nas nossas escolhas.

Na mensagem dos Bispos católicos do Estado do Rio lembrou-se que o contexto atual “exige atitudes políticas novas, capazes de repensar o serviço à cidade com modalidades mais eficientes, priorizando políticas públicas que defendam a vida na sua totalidade (família, saúde, educação, moradia, segurança, ambiente, etc.).”Por isso, pede-se que se considere o compromisso dos candidatos “com os reais interesses da cidade, especialmente para com os mais pobres e vulneráveis.”

Afinal, “a escolha dos prefeitos e vereadores pode ser determinante para processos de superação de desigualdade social e melhor qualidade de vida para todos.”

Neste 15 de novembro nos sentimos ainda mais comprometidos com o destino de todos, mas particularmente dos pobres e esquecidos de nossa sociedade. Ser cristão é também comprometer-se com os rumos da sociedade, pois somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai.

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.