Um bestseller insuperável

setembro 3, 2019 / no comments

Na vida ninguém nega que saber começar é algo que conta. De uma certa forma podemos dizer que tudo depende dos começos. Há motivações iniciais que dão impulso a toda a vida e levam a pessoa a caminhos que antes ela sequer podia suspeitar. Hoje começamos um novo mês, o mês de setembro. A Igreja Católica no Brasil tem se servido do ritmo dos meses do ano para valorizar algumas temáticas centrais da experiência de fé. Assim, o mês de maio é dedicado a Nossa Senhora, o mês de junho, ao Coração de Jesus, e etc. O mês de setembro foi reservado para um olhar de aprofundamento nas Sagradas Escrituras, é o mês da Bíblia. No final desse mês vamos celebrar a memória litúrgica de São Jerônimo, patrono dos que se dedicam ao estuda da Bíblia e ele também um dos maiores expoentes do cristianismo sobre esse assunto.

Considerada o maior bestseller de todos os tempos, a Bíblia é sempre atual, parece ter sido escrita hoje, pois continua a oferecer luzes para os dias que vivemos. A simplicidade de suas respostas vem ao encontro da busca dos homens e mulheres de todos os tempos. Nas suas páginas se esconde a sabedoria divina que Deus distribui com fartura aos simples de coração. Uma sabedoria não teórica, mas prática que ilumina as diversas situações a que está exposta a vida do ser humano.

A sua atualidade corresponde à perenidade de um Amor sempre novo que se dá aos seres humanos no ritmo dos acontecimentos da história. Deus nos quis encontrar nos nossos afazeres, no dia a dia da vida da família e do trabalho, na construção de sonhos e projetos, coisas muito normais na vida de qualquer pessoa. Por isso, a Bíblia é um livro do cotidiano. Desde o princípio foi neste contexto que a Palavra de Deus nos foi dirigida, em situações muito semelhantes àquelas que todos nós passamos, nas alegrias e nas dores, nas vitórias e nas derrotas. Assim, com muita facilidade, nos identificamos com os fatos e os personagens. Precisamente na vida, como de fato ela é na realidade, a Bíblia narra a intervenção de Deus que oferece um amor que salva.

A história contemporânea, como a dos homens e mulheres da Bíblia, precisa urgentemente de experimentar um amor como aquele que vem narrado nas páginas sagradas. Os grandes personagens bíblicos se eternizaram por terem feito a experiência de se deixarem tocar por esse amor que, primeiramente, mudou suas vidas, mas que, a seguir, foi fazendo suas revoluções nas pessoas que estavam junto deles. Este mesmo amor é oferecido a cada pessoa humana, não é coisa do passado, pois como diz a Carta aos Hebreus, «a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes» (4, 12). A força da Escritura chega aos corações e, quando esses se abrem à sua ação, recebem uma reorientação vital que enche de sentido novo tudo o que a pessoa é e faz.

Sendo Palavra viva de Alguém, ela requer escuta, atenção, docilidade. Portanto, o clima favorável para acolher o seu vigor é a oração. É preciso pedir ao Senhor, como Salomão, um coração capaz de escutar (1Rs 3, 9). Só na intimidade com Jesus Cristo se pode penetrar no sentido profundo da Escritura. De que falam as Escrituras senão dele? Não se trata de um livro meramente de estudos, é muito mais que isso. Neste sentido, o Concílio Vaticano II ensinou que ela deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita (cf. Dei Verbum, n. 12). Frequentando a Palavra de Deus escrita sob a moção do Espírito Santo e orientados pelo Magistério da Igreja, autêntico intérprete das Escrituras, teremos acesso às riquezas do Coração de Deus para as pessoas de todos os tempos. Que nesse mês nos aproximemos desta fonte onde Deus faz jorrar seus rios de água viva.

 

Artigo de dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu (RJ)

A família como vai? – Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva

agosto 10, 2019 / no comments

Era o ano de 1994 quando uma das Campanhas da Fraternidade que a Igreja católica costuma celebrar a cada quaresma tratou do tema da família. A pergunta que encabeça este artigo teve a força de ajudar muita gente, naquela ocasião, a repensar a qualidade de suas relações dentro do aconchego do lar e do papel decisivo da família na sociedade. De lá para cá muita coisa aconteceu, estamos passando por aquilo que a Conferência de Aparecida (2007) chamou de mudança de época. Hoje, inclusive, alguns arriscam falar até mesmo de mudança de era. Vivemos um tempo de profundas transformações onde, especialmente as instituições de maior relevância para a vida da sociedade humana, experimentam uma profunda crise. Portanto, convém de novo colocar a mesma pergunta num contexto novo. Não simplesmente perguntar a família como vai, mas concretamente sobre a família de cada um.

Família tem a ver com a sede de amor que existe em todo ser humano. Por isso, por mais que se pretenda reinventar esta realidade que a Sagrada Escritura coloca no ponto de partida da história da humanidade, não se pode negar a sede e a necessidade que todo mundo tem de amor e de amar. Se há algo próprio da identidade humana é a relação que se fundamenta no amor e que tem a sua base numa vida familiar. Falar de família é falar da pertença que nos constitui, por isso não é irrisória a reflexão sobre como vai a família.

Tendo as relações como algo constitutivo da ser humano, cabe também refletir sobre os diversos papeis que se jogam dentro da família. Lembro-me bem que o Sínodo da Juventude de 2018, em Roma, que pude participar, pedia que os papeis de pai e de mãe fossem melhor valorizados e aprofundados. A antropologia cristã reconhece a complementaridade homem e mulher como decisivo para o desenvolvimento da pessoa.

Na Exortação Apostólica A alegria do amor, do Papa Francisco, se recorda que “a mãe, que ampara o filho com a sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma autoestima que favorece a capacidade de intimidade e a empatia” (n. 175). Sobre o pai, diz-se na mesma Exortação que na nossa cultura a sua figura “estaria simbolicamente ausente, distorcida, desvanecida” (n. 176). Porém, recorda-se que “Deus coloca o pai na família, para que, com as características preciosas da sua masculinidade […] esteja próximo dos filhos no seu crescimento” (n. 177).

Celebrando o dia dos pais e vivenciando a Semana da Família, de 11 a 17 de agosto, queremos contribuir como cristãos, a partir da nossa oração, reflexão e partilha no projeto de felicidade que Deus tem para nós e que passa pela família. A missão da família é atual e determinante na construção de um mundo novo com o qual todos sonhamos.

 

Fonte: Portal Nova Iguassu On Line