Dentro do contexto das festas natalinas, sempre no 1º dia do ano, o Santo Padre oferece uma mensagem por ocasião da celebração do Dia Mundial da Paz. Esta mensagem é uma reflexão que deve ser continuamente retomada diante dos desafios que o tema da paz tem que enfrentar.
Este ano o tema foi “A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica”. Relacionar paz e esperança é muito conveniente, pois ela “é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis” (n.1).
Nunca é demais recordar que, quando se trata da árdua luta pela paz, se se quer ser coerente, é sempre necessário percorrer vários caminhos. Pode-se dizer que o ponto de partida está no próprio coração. Não seria coerente buscar por todos os meios lícitos alcançar um projeto de paz se no coração da pessoa ela estivesse ameaçada ou ausente. A paz que se quer fora, começa a sua construção dentro de cada pessoa. Mais ainda, é necessário recordar que ela é um dom que vem do alto, que é necessário pedir e também trabalhar para alcançar. Esta é sem dúvida, uma das tarefas que a humanidade inteira precisa assumir como obra coletiva. Ninguém pode eximir-se desse compromisso comum. Também aqui a humanidade deve se saber e se sentir formada por irmãos e irmãs.
Assim, entre os vários elementos da mensagem deste ano, destaco algo que pode ser-nos muito útil dentro da responsabilidade que todos temos. A paz é caminho de reconciliação na comunhão fraterna, afirma o Papa. Aqui se recorda que a Palavra de Deus nos coloca sempre diante de um Deus que fez aliança com a humanidade e, portanto, nos convida a “abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-nos mutuamente como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos.” (n.3) Este modo novo de ver cada ser humano pode gerar o respeito que é o único caminho “possível para romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança.” (idem)
Assim, a passagem do Evangelho que reproduz o diálogo entre Pedro e Jesus sobre quantas vezes se deve perdoar (Mt 18, 21-22) é um guia seguro para que aprendamos a viver no perdão, o que “aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz”. Seguindo essa linha de pensamento o Papa diz que “o que é verdade em relação à paz na esfera social, é verdadeiro também no campo político e econômico […] nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema econômico mais justo.” E, citando Bento XVI, lembra que “a vitória sobre o subdesenvolvimento exige que se atue não só sobre a melhoria das transações fundadas sobre o intercâmbio, nem apenas sobre as transferências das estruturas assistenciais de natureza pública, mas sobretudo sobre a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de atividade econômica caraterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão” (n. 3).
A fraternidade, portanto, é o fundamento daquele esforço comum para a promoção da tão necessária cultura da paz. Além disso, o seu fomento está ao nosso alcance no exercício cotidiano da acolhida do outro, da prática do perdão e da busca de meios que favoreçam os mais esquecidos porque vemos neles a presença do mistério de Deus que assumiu o rosto humano sofredor.
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste. 1 – CNBB