O presépio

dezembro 11, 2019 / no comments

 

 

Já estamos no Advento, tempo da “bela tradição das nossas famílias prepararem o Presépio, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças” …: é assim que começa a recente Carta Apostólica “Sinal Admirável”, com que nos brinda o Papa Francisco, sobre o presépio:

“Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. O Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, ‘teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria’ (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: ‘Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento’. Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária”.

A ideia dessa representação é atribuída a São Francisco de Assis: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro”… “O Presépio é um convite a ‘sentir’, a ‘tocar’ a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados”.

“‘Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer’ (Lc 2, 15) …: os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida… Pouco a pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo… Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José… É o guardião” … “O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços… Em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor” …

 

Artigo de Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal de São João Maria Vianney

 

O coração e os pés na missão

dezembro 8, 2019 / no comments

A poetisa mineira, Cora Coralina, ao afirmar que o que não toca o coração fica sem sentido, certamente intuía que é a partir de dentro que a vida muda. Na importante escola que a propria vida é, vivenciam-se muitas coisas que são como importantes divisores de águas. Assim considero a experiência de minha passagem pela Arquidiocese de Salvador e do encontro com D. Murilo Krieger, arcebispo da primeira Diocese do país.

Quandoem julho de 2011 recebi do Papa Bento XVI a nomeação  para bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, a Sé Primaz do Brasil, ainda não o conhecia pessoalmente.Durante 7 anos servindo como bispo auxiliar na Sé Primacial,pudeentão conhecê-lo melhor ecompartilharas responsabilidades do ministérioepiscopal, dentro de uma bela experiência marcada por amizade, alegrias e dores próprias da missão.Na convivência fraterna, dividindo o mesmo teto, a mesma mesa, nós, bispos auxiliares,desfrutávamosde sua amizade e da sua maneira simples e prática de expor a experiênciaacumulada.Afinal, quando D. Murilo chegou à Bahia de Todos os Santos, em 25 de março de 2011, já possuía uma bagagem de experiência pastoral de muitos anos de episcopadofecundo. Aquela era a sua 4ª Diocese.

Para alguém querecebe inicialmentea nomeaçãode bispo auxiliar, como foi o meu caso, trata-se de uma graça particular poder contar com a experiência de um outro bispo, que o ajude de forma generosa, sábia e amiga, a introduzir-se bem nas tarefas próprias de um ministério tão exigente.

Uma das primeiras coisas que ouvi dele e que trago dentro de mim é que “o meu coração deve estar onde os meus pés pisam”. O coração é mais que o afeto, é a pessoa toda inteira.Na convivência diária via nele um Pastor dedicado que aplicava seus afetos, suas energias, o seu tempo cuidadosamente aproveitado, para responder aos desafios próprios da sua missão na Bahia.  De fato, a missão requer dedicação exclusiva e intensa, feita de muitos detalhes cotidianos e de coisas muitas vezes surpreendentes. Lembro-me que, recentemente, ao ser confirmado como bispo de Nova Iguaçu, recebi de D. Murilo uma mensagem na qual me dizia: “você verá que um bispo toca a graça de Deus com as mãos”. Assim pude constatar o segredo da serenidade com que se pode viver um ministério tão exigente: a certeza de que nunca se está sozinho, Cristo compartilha nossas lutas e dores e nos oferece ombros amigos capazes de dividir conosco o “peso leve” do seu seguimento.

Neste 7 de dezembro de 2019, véspera da solenidade da Imaculada Conceição de Maria, o arcebispo Primaz do Brasil celebrou50 anos deministério sacerdotal.Um catarinense de Brusque, da Congregação do Padre Dehon,que, com sua transparência, proximidade e grandeza humana e espiritual, cativou o coração dos soteropolitanos e dos baianos, em geral.

Esta importante ocasião, me brinda a oportunidade de homenageá-lo e trazer à memória a vivência daqueles anos recentes, mas que deixaram marcas profundas.Os grandes homens não passam na nossa vida sem deixar algo de si.Essas poucas linhas, simplesmente servemde um breve aceno, uma homenagem singela, pois a experiência e a gratidão são maiores que a possibilidade de expressá-las na sua totalidade.

Também na rica história da Arquidiocese de São Salvador da Bahia este pastor deixará sua marca.Dos pequenos e dos grandes, dos sábios e dos simples, das autoridades civis e religiosas, aproximou-se com respeito e com consciência clara de sua missão. Sua projeção no Estado da Bahia comprova a consciência de que todas as ovelhas interessam ao Pastor. Seu cuidado pelas vocações oferecerá certamente um marco para a história do Seminário Central da Bahia. Um bispo sensível às necessidades do momento, atento a oferecer a proximidade da presença da Igreja nos dramas da vida dos irmãos. Um mestre que através dos seus escritos alcançou muitos corações. Um homem interessado pela vida da cidade, pensemos nas intervenções importantes em momentos de crises sociais e na impulso que deu à restauração de importantes edifícios que a fé construiu na cidade.

Com seu jeito alegre e simples deixou transparecer a força do seu lema episcopal: “Deus é amor”.  Parafraseando o padroeiro dos párocos, São João Maria Vianney, podemos dizer: «um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma diocesee um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». A ele a nossa saudação e gratidão. Ad multos annos!

 

Artigo de dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB

 

Foto: Sara Gomes – Assessoria de Imprensa da Arquidiocese de São Salvador da Bahia (BA)