É tempo de cuidar

abril 18, 2020 / no comments

Em muitas falas recentes sobre a atual pandemia, ouve-se dizerque toda crise é também oportunidade. A vida do ser humano é marcada por repetidas “crises”. Nascer é a primeira crise que se tem que enfrentar.A partir daí a vida segue um longo ou curto processo de crescimento. No percurso, é preciso contar com outras situações críticas que a própria vida se encarrega de oferecer. Quem não se lembra, por exemplo, de quando teve que ir para a escola pela primeira vez? Para uns tratou-se de uma realidade tranquila, já para outros não foi tão fácil ter que se adaptar a uma realidade complemente diferente.

O fato é que toda crise nos desestabiliza e revela que ainda não chegamos aonde devemos chegar, mas que é preciso aproveitar as várias circunstâncias da vida para as oportunidades novas que se oferecem. Na crise há dor, mas também há descobertas que podem marcar uma revolução na vida pessoal para o bem ou para o mal. Tudo dependerá de fazer as escolhas mais acertadas. Para isso, é necessário contar com a experiência de outros também. Nada como uma crise para ajudar-nos a compreender que dependemos uns dos outros, que ninguém pode pretender viver uma vida melhor só olhando para si.

Como temos ouvido frequentemente, no atual contexto da pandemia, espera-se que juntos consigamos ter atitudes diferentes, melhores, depois do sofrimento que juntos também estamos atravessando.

Um dos elementos surpreendentes desse tempo tem sido as diversas manifestações de solidariedade. É evidente que também entre os cristãos isso se manifeste de muitas formas, afinal a solidariedade está no DNA do cristão, uma vez que ele entende que somos o que somos porque Deus se fez solidário à condição de necessidade da humanidade e também porque Jesus ordenou-nos amar-nos como Ele nos amou.

A Igreja católica no Brasil tem procurado potencializar aquilo que já normalmente faz nas diversas inciativas caritativas que realiza. Entende-se que o momento atual gera uma urgência ainda maior do ponto de vista social. Portanto, é preciso unir as forças para poder ir ao encontro dos irmãos e irmãs que se encontram em diversos tipos de necessidades. Com esse intuito, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Cáritas Nacional estão se unindo às múltiplas iniciativas das dioceses, paróquias e outros grupos, através de um projeto de ação solidária emergencial, intitulado “É TEMPO DE CUIDAR”, inspirado no lema da Campanha da Fraternidade 2020.

As atitudes do bom samaritano que “viu, sentiu compaixão e cuidou” do homem que ele encontrou à beira do caminho, inspiram os gestos concretos que juntos queremos assumir diante da atual circunstância de dor que estamos vivenciando.

Através do diálogo com as várias realidades eclesiais e a troca de experiências, pretende-se estimular aquelas ações que possam atender de modo mais eficiente a  assistência imediata, tendo sempre presentes as medidas de precaução higiênica indicadas pelasautoridades sanitárias.

Atenção especial deve ser colocada também para identificar outras formas de vulnerabilidade que também deverão ser atendidas. O projeto da equipe CNBB-Cáritas destacava, por exemplo, a solidão e outrasangústias emocionais, bem como o atendimento religioso diante da exigência dedistanciamento social.

Em nossa Diocese, as Paróquias, Cáritas diocesana e Centro de Direitos Humanos, além de outras realidades eclesiais, como, por exemplo, a Casa do Menor, têm se mobilizado com propostas concretas para identificar as necessidades e oferecer acompanhamento e ajudas necessárias.

Que a pandemia desperte ainda mais entre nós a solidariedade necessária neste tempo, procurando tocar a carne de Cristo sofredor, dando esperança para que nossos irmãos e irmãs sigam caminhando neste deserto em que nos encontramos.

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguacu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

60 anos sob o sinal da esperança

março 28, 2020 / no comments

Quando em 26 de março 1960, o saudoso Papa São João XXIII, criava a Diocese de Nova Iguaçu, através da Bula QuandoquidemVerbis, já havia nessas terras da Baixada Fluminense uma forte presença da Igreja. Hoje celebramos seus 60 anos. A criação da Diocese possibilitou estruturar melhor e, assim, dar mais consistência à ação evangelizadora na região. Por outro lado, poder chamar de “nossa” a missão, compromete a um empenho maior e a olhar de perto os desafios que nas diversas horas da história se apresentam.

Desde as suas origens, a nossa Diocese conheceu a dedicação apaixonada de homens e mulheres, que compreenderam imediatamente que a ação da Igreja aqui devia estar muito próxima das lutas e dores de nossa gente, para levar-lhes a novidade cheia de esperança do Evangelho. Por isso, junto com o imprescindível anúncio da pessoa de Jesus e seu de seu Reino,a obra da evangelização sempre teve presente a colaboração no desenvolvimento humano e social do lugar, uma vez que, como diz Santo Irineu, “a glória de Deus é o homem vivo”.

A memória dos primeiros evangelizadores não se perdeu, mas ganhoureconhecimento e projeção em nomes de ruas e outras referências que fazem parte da vida das cidades da Baixada Fluminense. A sua memória se perpetua porque sua dedicação sacerdotal e cristã alcançou o coração de tantas pessoas e deixou marcas na vida concreta de nossa gente. Além disso, não se pode deixar de recordar os inúmeros anônimos que foram seus colaboradores e que, na simplicidade de sua condição, deram vida a projetos que nasciam dos ideais de uma inspiração evangélica autêntica.

Celebrar 60 anos é fazer memória agradecida dos cristãos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e multidões de leigos e leigas, de ontem e de hoje, que testemunharam e testemunham sua fé na nossa amada Baixada.É também retornar às fontes de sua inspiração para responder aos desafios que hoje se colocam à missão, em um contexto completamente novo, de uma verdadeira mudança de era como a que estamos vivendo.

Celebramos estes 60 anos no período da Quaresma e, nela, da Campanha da Fraternidade, que neste ano nos convida a inspirar-nos nas atitudes do Bom Samaritano do Evangelho: “viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. As pautas de nosso compromisso dos 60 anos são aquelas indicadas pelo Papa Francisco: ser Igreja em saída, missionária, e também samaritana, que não fica indiferente diante da solidão e da dor de tantos que vivem perto de nós.

Não podemos negligenciar dirigir um olhar para a atual situação pandêmica que nos obrigou a rápidas mudanças e a adaptações, sempre na perspectiva de ser uma Igreja em saída e que procura viver a sua vocação de ser presença junto a todos e, especialmente, aos mais pobres e sofredores.Os últimos acontecimentos exigem ainda mais uma Igreja mais perto das pessoas, e, concretamente, no lugar onde elas se encontram.

As recentes Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, nos impelem a ser presença, através das comunidades eclesiais missionárias que têm na “casa”a sua inspiração mais forte. As próprias circunstâncias estão nos fazendo valorizar a casa não apenas como lugar seguro, mas também como a Igreja doméstica, que se reúne pelas casas.

Horizontes para a nossa missão não faltam. Queremos fazer jus ao testemunho dos irmãos que nos precederam e seguir adiante, discernindo melhor nosso modo de testemunhar a esperança sempre necessária neste tempo de importantes desafios religiosos, culturais e sociais, encontrando caminhos novos, que correspondam aos anseios e necessidades dos homens e mulheres do nosso tempo. Empenhemo-nos nas propostas planejadas para a vida de nossa Diocese neste ano.

Nossa Senhora da Piedade, primeira grande luz acesa no coração dos fiéis de nossa Diocese, nos inspire atitudes para sustentar a todos aqueles e aquelas que, à semelhança do seu Filho, tombam nas suas lutas e esperam testemunhas da esperança que os ajudem a não desistir de seguir caminhando.

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.