Catequistas, semeadores de esperança

agosto 30, 2020 / no comments

Catequistas, semeadores de esperança

 

 

Por ocasião do seu dia, comemorado neste último domingo do mês de agosto, gostaria de dirigir-me a você, Catequista, para manifestar, em nome de toda a Diocese, a nossa gratidão pelo seu dedicado empenho missionário.

Na missão essencial de comunicar a Boa Nova de Jesus e de seu Reino, você, Catequista, foi escolhido(a) para ser testemunha diante daqueles que pretendem iniciar ou prosseguir um caminho de seguidores do Divino Mestre. Ele mesmo estabeleceu chegar aos corações de crianças, jovens, adultos e idosos através de porta-vozes da sua mensagem que é capaz de transformar a vida das pessoas e, consequentemente, do mundo. Ser anunciador da Verdade do Evangelho, num mundo carente de referências seguras, o compromete, caro(a) Catequista, com a vida de tantas pessoas e com a esperança para o mundo.

O seu trabalho é o da semeadura. O terreno deve estar preparado, pois a semente é sempre boa e tem força para produzir frutos abundantes. Semear é uma tarefa muitas vezes penosa, requer perseverança, paciência, cuidado e, sobretudo, esperança. É preciso esperar em Deus, que nunca falha, e esperar também no homem e na mulher que se dispõem a receber o dom divino. Mas não se esqueça que há muito terreno por aí que precisa ser encontrado.Hoje não se pode conceber um catequista fora da lógica missionária de uma Igreja que sabe ir ao encontro dos que não vêm.

A dinâmica da fé requer anúncio explícito. O que se comunica não é a pessoa do(a) catequista, mas Jesus Cristo. O que toca o coração e pode mudar a vida é a sua Pessoa.Já nos lembrava o Papa São Paulo VI que “não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados” (EvangeliiNuntiandi[EN], 22).

A catequese sempre procurará formas para que este anúncio seja eficaz e interpele a vida. Mas não se esqueça que método nenhum pode substituir o conteúdo. É preciso estar atento para que não aconteça essa inversão e a Evangelização fique enfraquecida.

Na sua missão de Catequista o testemunhode uma vida coerente com a mensagem evangélicaé também insubstituível. São Paulo VI recordava que “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, e se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN, 41).

Dessa forma, o(a) Catequista é sinal de esperança presente. Por sua palavra e seu exemplo ensina “as promessas feitas por Deus na Nova Aliança em Jesus Cristo: a pregação do amor de Deus para conosco e do nosso amor a Deus, a pregação do amor fraterno para com todos os homens, capacidade de doação e de perdão, de renúncia e de ajuda aos irmãos, que promana do amor de Deus e que é o núcleo do Evangelho; a pregação do mistério do mal e da busca ativa do bem. Pregação, igualmente, e esta sempre urgente, da busca do próprio Deus, através da oração, principalmente de adoração e de ação graças, assim como através da comunhão com o sinal visível do encontro com Deus que é a Igreja de Jesus Cristo”(EN, 28). Essas realidades presentes na missão do Catequistas significam um respiro para uma humanidade sufocada pelo egoísmo e por tantos outros males presentes.

Finalmente, quero lembrar a você, que a sua missão hoje deve encontrar formas de um maior compromisso com os irmãos e irmãs através do acompanhamento. Hoje, mais que nunca, se evidencia a necessidade de catequistas que trilhem juntos, com os catequizandos, o belo e árduo caminho da fé, nos acontecimentos da vida e da história presente. Como Jesus, com os discípulos de Emaús, ouvir e ser capazes de acolher os medos, as perguntas, o cansaço para poder iluminar a realidade com a luz que vem do coração de Deus em seu Filho Jesus.

Finalizando quero lembrar que o novo Diretório para a Catequese é um recurso importante na formação do(a) Catequista e pede de nós a realização de iniciativas para começar o seu aprofundamento.

Mais uma vez obrigado por se fazer companheiro de caminhada da humanidade.

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

Uma pergunta incômoda

agosto 23, 2020 / no comments

Uma pergunta incômoda

Colocar-se perguntas é próprio do ser humano e trata-se de uma atividade que não termina nunca. A própria vida se encarrega de provocar a reflexão. Há perguntas cujas respostas podem orientar para sempre a vida de uma pessoa. Não é diferente na experiência religiosa. A religião, para além de questão sentimental, é uma escolha que dá sentido e orientação à própria existência. A capacidade de se questionar é um pressuposto indispensável para alguém que decide percorrer o caminho do cristianismo. A liturgia da Missa deste domingo ilustra isso através de um diálogo que Jesus estabelece com os seus discípulos mais achegados (Mt 16, 13-20).

Jesus se dirige à região de Cesaréia de Filipe com o grupo dos Doze que o seguia. Trata-se de lugar distante do contexto habitual, uma área periférica do ponto de vista religioso, um ambiente diferente onde prevalecia o jeito romano de ser. Ali, Jesus lhes pergunta de forma genérica a opinião das pessoas sobre ele e, a seguir, questiona: “E para vocês, quem sou eu?”

A vocação cristã, por mais popular que seja, nunca dispensa a decisão pessoal. É preciso poder dizer quem é Jesus para mim. E isso não se responde apenas uma única vez na vida, por exemplo, no momento do batismo ou da crisma. Mas é uma resposta que as próprias circunstâncias exigem. O encontro com Cristo é atualizado nas vicissitudes da história e se atualiza quando nos deixamos alcançar por ele, em meio aos acontecimentos de nossa vida pessoal e dos movimentos da história. Por isso, o seguimento de Cristo é sempre atual e tem sempre alguma novidade a trazer, mesmo quando parece que não é possível nada de novo em determinados momentos.

O que aqui falo não se trata de uma bela teoria, mas a própria caminhada dos cristãos ao longo desses 21 séculos demonstra isso. É verdade que não faltam equívocos. E eles acontecem quando o discípulo do Senhor se afasta de sua presença e da proposta que ele veio trazer no seu Evangelho. Assim, o caminho de discípulo tem sempre em Cristo uma referência nova e iluminadora para todas as circunstâncias. Uma vez que o Verbo de Deus se encarnou num momento concreto, numa realidade cultural também concreta, a sua presença está atuante ao longo dos séculos, graças à sua Ressurreição.

Por isso, era decisivo para os apóstolos, naquele momento ter uma resposta à pergunta incômoda que Jesus lhes fazia.

que se dá por meio do encontro com pessoas que, por sua vez, estiveram em contato com Ele. Foi assim desde os inícios. Sempre se requer uma adesão consciente, uma vez que, por sua natureza, a fé cristã tende a comprometer a vida da pessoa por inteiro e a direcioná-la para uma opção coerente com o Evangelho.

Há muitas opiniões acerca de Jesus, sempre houve. Elas, de alguma maneira, representam modos de ver Jesus. Por exemplo, lembro-me que nos anos 70, o espetáculo Jesus Cristo Superstar trouxe uma interpretação de Jesus que o aproximava de certos movimentos culturais que na época eram tendência. Mas se tratava de uma forma de ver. Mas Jesus não é uma opinião que se adapta ao gosto do cliente, Ele é Deus encarnado. Não se trata do Cristo que eu gosto, mas do Cristo como Ele é.

A resposta de Simão Pedro, “tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, indica que para conhecer Jesus é preciso estar aberto ao dom que ele é e que o Pai nos oferece. Por isso, Jesus diz a Pedro que só pôde responder acertadamente à pergunta porque o Pai agiu no seu coração.

A tarefa de conhecer Jesus requer um aprofundamento durante a vida inteira e também a humildade de acolher a resposta de Pedro que é sempre atualizada nos caminhos da Igreja. É na experiência eclesial que se pode descobrir o verdadeiro rosto de Cristo e, a partir daí, iluminar a própria vida e os caminhos da história. Este é um desafio que nos corresponde hoje também.

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.