Pe. Fernando, pastor com cheiro das ovelhas

outubro 25, 2020 / no comments

Pe. Fernando, pastor com cheiro das ovelhas

Nesses últimos dias do mês missionário tivemos o pesar de sepultar um grande apóstolo dessas terras da Baixada Fluminense, o Pe. Fernando Vandenabeele. Missionário da Congregação do Imaculado Coração de Maria (CICM), de origem belga, iniciou a missão na Diocese de Nova Iguaçu, em maio de 1965, como pároco em Santa Maria (atualmente Belford Roxo). Homem preparado, fez seus estudos eclesiásticos na renomada Universidade de Lovaina e sociologia em Paris. Mas a bagagem acadêmica foi em muito superada pela sua grande humanidade que, pouco a pouco, se revelava no encontro e no cuidado que tinha com as pessoas.

Pelo seu dinamismo e preparo logo foi colocado à frente de vários outros serviços. Em abril de 1968, a pedido do bispo, assumiu a Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS) diocesano. Em 23 de dezembro de 1970, a pedido do bispo de Volta Redonda, D. Waldyr Calheiros, começa na Cidade do Aço amplo trabalho pastoral numa paróquia com 18 comunidades. Eram tempos de efervescência social grande no Brasil. O pároco do lugar tinha sido preso e Pe. Fernando foi para lá, junto com seus confrades CICM, para desempenhar uma missão nada fácil.

O Pe. Bernado, atual Pároco de Santo Elias, testemunha que “o trabalho em equipe deixou marcas profundas, como também o jeito do nosso amado coordenador Pe. Fernando.  Foram tempos fortes do Cursilho de Cristandade, de círculos bíblicos, formação de lideranças leigas nas Ceb´s sempre dentro das grandes linhas pastorais diocesanas do saudoso carismático bispo Dom Waldyr”.

Sua capacidade pastoral, intelectual e humana despertou a atenção a nível de organismos missionários de âmbito nacional. Assim, em fevereiro de 1976, ele assumiu o Centro de Formação para Agentes de Pastoral estrangeiros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o CENFI e, em 1979, foi encarregado de fazer a transferência do Rio para Brasília.

Em setembro de 1979, foi eleito provincial de sua Congregação no Brasil. Foram os anos em que animou, incentivou e visitou a nova missão que a Congregação iniciara em setembro de 1979, no Sul do Pará. Tendo exercido com muita responsabilidade e fraternidade a coordenação do Conselho Provincial, permaneceu na função até 1985.

A partir deste ano não deixará mais a Diocese de Nova Iguaçu, senão por um período de 3 anos, na Bélgica, como reitor de uma casa de Padres e Irmãos CICM idosos.

Cooperou com todos os bispos da Diocese até mim. Amado pelo povo das paróquias por onde passou, era admirado por sua capacidade de tornar Cristo presente no seu exemplo, carinho, capacidade extraordinária de amizade e um zelo extraordinário pelo cuidado de todos, especialmente dos pobres e esquecidos da sociedade. É recordado com carinho pelo trabalho de animação da Pastoral da Saúde, realizado no hospital da Posse, onde enfermos, funcionários da manutenção, médicos e enfermeiros se tornaram seus amigos.

Animado pela fé, a esperança e o amor ao Senhor que sempre o inspirava e animava na sua missão, com alegria e com o sorriso que sempre nos cativou,agora descansa da dura luta que enfrentou aqui e, certamente, nos acompanha do céu para que não desanimemos de seguir lutando pelo Reino de Deus que ele serviu com tanto empenho.

A Diocese de Nova Iguaçu tem no seu testemunho um dos seus pilares.Como bispo diocesano, sou profundamente grato pela semente bem plantada por ele nos nossos campos, já vemos tantos frutos. Sua colaboração como ecônomo no curto período que aqui estou e, sobretudo, seus conselhos maduros e amizade me dão confiança para seguir na missão, tendo também a ele como inspiração. Obrigado, Pe. Fernando! Sentiremos tanta saudade! O seu exemplo nos inspire!

Fonte: Pe. Bernard M. Raymon Masson, Discurso na Missa das Exéquias de Pe. Fernando.

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

Ouvir e caminhar com os jovens

outubro 19, 2020 / no comments

Ouvir e caminhar com os jovens

 

Os jovens costumam ser apresentados como referência futura nas reflexões e falas de muitas pessoas. Há sempre quem os apresente como esperança do amanhã e certeza futurística.

Gostei de ouvir da boca do Papa emérito, Bento XVI, a afirmação de que os jovens são o presente da Igreja, pois se não forem o presente, também não haverá futuro para ela. Mais recentemente, o Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Cristo vive, dirigida aos jovens, disse algo semelhante ao afirmar que “depois de repassar a Palavra de Deus, não podemos dizer apenas que os jovens são o futuro do mundo. São o presente, pois o estão enriquecendo com sua contribuição” (n. 64).

De fato, de muitas formas, e em vários setores da vida humana encontramos muitos jovens sendo protagonistas de realidades novas nos diversos âmbitos da sociedade. É impossível ignorar de que eles são construtores de um presente que influenciará o que se viverá futuramente. No entanto, para muitos jovens o presente é inibidor de sonhos e projetos, pois se encontram do lado daqueles que não tiveram oportunidades nem referências que os ajudasse a assumir o protagonismo que lhes é próprio.

Ter clara essa relação determinante dos jovens com o presente é de importância capital uma vez que nos pode servir para refletir acerca de como consideramos seu papel na Igreja e no mundo. Desde a relação mais elementar que é a familiar até à mais complexa, por exemplo, com as diversas instituições sociais, os jovens requerem uma atenção privilegiada, uma vez que este presente é condição do seu futuro e de toda a humanidade.

A celebração do Dia Nacional da Juventude (DNJ), neste domingo,deve nos provocar uma profunda revisão sobre o lugar que estamos dando aos jovens em nossas diversas realidades eclesiais: diocese, paróquias, comunidades, pastorais, movimentos, associações, etc. A ocasião nos obriga a uma reflexão e a um olhar para os jovens que estão próximos de nós, sem esquecer, é claro, os mais distantes.

Desde o Sínodo da Juventude, em outubro de 2018, repetidas vezes se recorda um pedido de dispor de meios mais eficientes para escutar pessoalmente os jovens. O Papa Francisco adverte que “essa empatia enriquece, porque permite aos jovens dar a sua contribuição à comunidade, ajudando-a a abrir-se a novas sensibilidades e a fazer-se perguntas inéditas” (Cristo vive, n. 65).

Este ano o DNJ se inspira na atitude de Jesus com os discípulos de Emaús: “Ouviu e junto com eles caminhou” (Lc 24, 15-17). A escuta e o acompanhamento descrevem os desafios importantes a enfrentar para realizar uma pastoral juvenil capaz de dialogar com o nosso tempo e com as necessidades dos jovens de hoje.

Preocupa-nos a ausência dos jovens nas nossas estruturas sobretudo paroquiais. Às vezes é mais fácil encontrá-los em outras realidades eclesiais. Talvez nelas eles encontrem mais acolhimento, valorização pessoal, acompanhamento personalizado, envolvimento missionário. O tempo tem nos feito compreender que se deve superar aquela tendência a oferecer caminhos aos jovens sem que estes caminhos tenham sido trilhados também por outros jovens. Nada do que se oferece pastoralmente para os jovens deve ser feito sem eles. Como recorda Francisco, “os próprios jovens são agentes da pastoral juvenil, acompanhados e orientados, porém livres para encontrar caminhos sempre novos, com criatividade e audácia.” (Cristo vive, n. 203)

A celebração anual do DNJ acenda em nós o desejo persistente de abrir espaço e encontrar caminhos para ouvir e seguir mais de perto os jovens de dentro e de fora da Igreja, afinal “todos os jovens, sem exclusão, estão no coração de Deus e, portanto, no coração da Igreja”(Cristo vive, 235).

 

Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.