O Papa: guerras e crises geram um clima pesado, rezemos com insistência

janeiro 23, 2024 / no comments

O Papa: guerras e crises geram um clima pesado, rezemos com insistência

 

Publicamos o prefácio de Francisco ao livro “Orar hoje. Um desafio a ser superado”, publicado pela LEV (Livraria e Editora Vaticana) e assinado pelo cardeal Angelo Comastri, o primeiro volume de uma série de pequenos textos que serão publicados no Ano da Oração convocado pelo Pontífice em preparação ao Jubileu. O texto foi publicado esta terça-feira, 23 de janeiro, na íntegra pelo jornal Avvenire, diário da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

A oração é a respiração da fé, é sua expressão mais adequada. Como um grito silencioso que sai do coração daqueles que acreditam e se entregam a Deus. Não é fácil encontrar palavras para expressar esse mistério. Quantas definições de oração podemos encontrar nos santos e mestres da espiritualidade, bem como nas reflexões dos teólogos! No entanto, ela só pode ser descrita na simplicidade de quem a vive. O Senhor, por outro lado, advertiu-nos de que, quando oramos, não devemos desperdiçar palavras, iludindo-nos com a ideia de que seremos ouvidos. Ele nos ensinou a preferir o silêncio e a nos confiarmos ao Pai, que sabe do que precisamos antes mesmo de pedirmos a Ele (cf. Mt 6,7-8).

O Jubileu Ordinário de 2025 está se aproximando. Como podemos nos preparar para esse evento, tão importante para a vida da Igreja, se não for por meio da oração? O ano de 2023 foi dedicado à redescoberta dos ensinamentos conciliares, contidos principalmente nas quatro Constituições do Vaticano II. É uma maneira de manter viva a consignação que os padres reunidos no Concílio quiseram colocar em nossas mãos, para que, por meio de sua implementação, a Igreja pudesse rejuvenescer seu rosto e proclamar a beleza da fé aos homens e mulheres de nosso tempo em uma linguagem adequada. Agora é o momento de nos prepararmos para o ano de 2024, que será inteiramente dedicado à oração. De fato, em nosso tempo, sente-se cada vez mais a necessidade de uma verdadeira espiritualidade, capaz de responder às grandes interpelações que surgem todos os dias em nossa vida, provocadas também por um cenário mundial que certamente não é sereno. A crise ecológica-econômica-social agravada pela recente pandemia; as guerras, especialmente a da Ucrânia, que semeiam morte, destruição e pobreza; a cultura da indiferença e do descarte tende a sufocar as aspirações de paz e solidariedade e a marginalizar Deus da vida pessoal e social… Esses fenômenos contribuem para gerar um clima pesado, que impede tantas pessoas de viver com alegria e serenidade.

Precisamos, portanto, que nossa oração se eleve com maior insistência ao Pai, para que possa ouvir a voz daqueles que se dirigem a Ele na confiança de serem atendidos. Este ano dedicado à oração em nada diminui as iniciativas que cada Igreja particular sente que deve planejar para seu compromisso pastoral diário. Pelo contrário, ele recorda o fundamento sobre o qual os vários planos pastorais devem se desenvolver e encontrar consistência. É um tempo em que, tanto pessoal como comunitariamente, se pode redescobrir a alegria de rezar na variedade de formas e expressões. Um tempo significativo para aumentar a certeza de nossa fé e confiança na intercessão da Virgem Maria e dos santos. Em suma, um ano para fazer a experiência quase de uma “escola de oração”, sem tomar nada como certo ou óbvio, sobretudo no que diz respeito à nossa maneira de orar, mas fazendo nossas, todos os dias, as palavras dos discípulos quando pediram a Jesus: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11,1).

Neste ano, somos convidados a nos tornarmos mais humildes e a abrir espaço para a oração que brota do Espírito Santo. É Ele quem sabe como colocar as palavras certas em nosso coração e em nossos lábios para serem ouvidas pelo Pai. A oração no Espírito Santo é o que nos une a Jesus e nos permite aderir à vontade do Pai. O Espírito é o Mestre interior que nos mostra o caminho a ser percorrido; graças a Ele, a oração de uma única pessoa pode se tornar a oração de toda a Igreja e vice-versa. Nada como a oração segundo o Espírito Santo para fazer com que os cristãos se sintam unidos como uma família de Deus, que sabe reconhecer as necessidades de cada um para fazer com que elas se tornem a invocação e a intercessão de todos. Estou certo de que os bispos, sacerdotes, diáconos e catequistas encontrarão neste ano as formas mais adequadas para colocar a oração na base do anúncio de esperança que o Jubileu 2025 pretende fazer ressoar neste tempo conturbado. A contribuição das pessoas consagradas, em particular das comunidades de vida contemplativa, será muito preciosa nesse sentido.

Espero que em todos os santuários do mundo, lugares privilegiados de oração, aumentem as iniciativas para que cada peregrino encontre um oásis de serenidade e parta novamente com o coração cheio de consolação. Que a oração pessoal e comunitária se torne incessante, sem interrupção, de acordo com a vontade do Senhor Jesus (cf. Lucas 18,1), para que o Reino de Deus se estenda e o Evangelho chegue a todas as pessoas que pedem amor e perdão. Para facilitar este Ano da Oração, foram produzidos alguns textos curtos que, na simplicidade de sua linguagem, ajudarão a entrar nas várias dimensões da oração. Agradeço aos Autores por sua contribuição e coloco com prazer essas “Notas” em suas mãos, para que cada um possa redescobrir a beleza de confiar-se ao Senhor com humildade e alegria. E não se esqueçam de rezar por mim também.

Fonte: Vatican News

Mutirão Nacional encerra 6ª Semana Social Brasileira

janeiro 23, 2024 / no comments

Mutirão Nacional encerra 6ª Semana Social Brasileira

 

A 6ª Semana Social Brasileira (6ªSSB) será encerrada com o Mutirão Nacional – O Brasil que queremos: o Bem Viver dos Povos. A atividade será realizada em Brasília (DF), entre os dias 20 e 22 de março de 2024. Esta 6ª Edição da SSB foi mobilizada pela Cepast-CNBB e realizada pela Pastorais Sociais e Organismos da CNBB, em parceria com Movimentos Populares.

Participam bispos da Comissão para a Ação Sociotransformadora (Cepast) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), representante do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), de Igrejas irmãs e representantes indicados a partir dos Mutirões realizados em todo o território nacional: multiplicadores da 6ªSSB dos regionais da CNBB, organismos da CNBB, pastorais Sociais, movimentos populares, organizações sociais e políticas parceiras, incluindo o poder público.

Projeto Popular – O Brasil que queremos

Foto do Seminário Nacional “O Brasil que temos”
realizado em agosto de 2022. Foto: Cepast.

A Construção do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos” é a proposta deste Mutirão Nacional de encerramento deste ciclo da 6ªSSB, iniciado em 2020. No decorrer desta 6ª edição da SSB, o tema de debate foi “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho” e fortalecidos pelos eixos: democracia, soberania e economia.

A Construção do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem Viver” dos povos é a proposta do Mutirão Nacional de encerramento deste ciclo da 6ªSSB. Os Mutirões foram iniciados em 2020 e serão encerrados em 2024. No decorrer desta 6ª edição da SSB, o tema de debate foi “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho” e fortalecido pelos eixos: democracia, soberania e economia.

Segundo a secretaria-executiva da 6ªSSB, Alessandra Miranda (na foto ao lado), a realização do Mutirão Nacional vai possibilitar o resgate da memória dos acúmulos desta 6ª edição a partir dos debates e contribuições dos regionais da CNBB, das arquidioceses e dioceses, prelazias, paróquias, comunidades e dos movimentos populares que atuam nessa temática.

Alessandra Miranda ressalta que as contribuições dos territórios vêm a partir dos elementos do Brasil que temos, debatidos, estudados e refletidos à luz do tema e dos eixos da 6ª SSB. Com esse conjunto de propostas construídas em Mutirões será concretizado o Projeto Popular Nacional O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos. “A construção do Projeto será um compromisso comum entre a Igreja no Brasil e os Movimentos Populares”.

A secretária, também, lembra que no decorrer do Mutirão Nacional “a vivência da mística e espiritualidade, que fortalecem as lutas e experiências das comunidades, serão perpassadas pelas experiências metodológicas do encontro”.

A programação

Dia 20 de março – O Bem Viver dos Povos
– Acolhida e celebração eucarística
– Mesa de abertura e saudação de autoridades eclesiais, poder público e sociedade civil
– Memória da 6ªSSB
– Análise de Conjuntura – leitura da realidade: acontecimento (fatos), cenários (local, nacional e mundial) e relações das forças políticas e articulação ou relações entre estrutura e relatos da conjuntura
– Intercambio: O Bem Viver dos povos, serão trazidas experiências de mobilização e resistência popular referente à terra, teto, trabalho, soberania, democracia e economia, das Regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul

21 de março – O Brasil que temos
– Apresentação e análise da assessoria sobre síntese nacional “O Brasil que temos”
– Conjuntos dos Planos de Incidência Política Local
– Trabalho por grupos, organizados por eixos – Terra, Teto, Trabalho, Democracia, Soberania e Economia Elaborar ações para O Brasil que queremos
– Plenária para apresentação das propostas O Brasil que queremos para complementações e aprovação

22 de março – Projeto popular O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos
– Mesa: Projeto Popular O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos
– Memória das apresentações das sínteses dos grupos
– Trabalhos por grupos
– Plenária para aprovação dos trabalhos
– Encaminhamentos, agradecimentos e despedidas

O que são as Semanas Sociais Brasileiras

As Semanas Sociais Brasileiras são iniciativas da CNBB, animadas pela Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (Cepast) e realizadas pelas pastorais sociais e movimentos populares. Têm o objetivo de fortalecer as ações conjuntas e as próprias organizações envolvidas, a partir de pautas comuns e realização de incidência na Igreja e na sociedade com processos sociotransformadores.

O tema desta 6ª edição nasce da provocação do Papa Francisco, em outubro de 2014, no primeiro Encontro Mundial de Movimentos Populares. Na ocasião, o pontífice recorreu à solidariedade afirmando que ela “é muito mais do que alguns gestos de generosidade esporádicos. É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridades da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais […] Digamos juntos de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem-terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que provém do trabalho”, declarou. Dessa provocação de Francisco nasceu o tema da 6ª Semana Social Brasileira, “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”, com a proposta de mobilização e realização entre 2020 e 2022.

Na mesma Mensagem de 2014, o pontífice, nos desafia: “é impossível imaginar um futuro para a sociedade sem a participação como protagonistas das grandes maiorias e este protagonismo transcende os procedimentos lógicos da democracia formal”. Ele interpela, para que a construção de um mundo de paz e justiça duradouras supere o assistencialismo paternalista.

O Santo padre afirmou ser preciso criar formas de participação que envolvam os sujeitos e atores que estimulem as estruturas governamentais locais, nacionais e internacionais com uma energia moral para a inclusão das pessoas excluídas, na construção do destino comum. De acordo com o Papa Francisco, tudo isso deve ser feito com entusiasmo construtivo, sem ressentimentos e com amor.

O Projeto Popular

À luz da provocação do Papa Francisco, em sua Carta aos Movimentos Populares em 2020, que diz: “vocês não são uns improvisados, têm a cultura, a metodologia, mas principalmente a sabedoria que é amassada com o fermento de sentir a dor do outro como sua. Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que ansiamos, focado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e no acesso universal aos três T que vocês defendem: terra e comida, teto e trabalho”, se fortalece a proposta de construção do Projeto Popular O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos.

Com isso, as articulações da 6ªSSB prosseguiram potecializando onde há e propor onde está fragilizado ou se perdeu a proposta do Bem Viver dos povos e a cuidar, proteger e defender a Casa Comum. “Várias encíclicas advertem que a Igreja não tem competência técnica nem os meios necessários para analisar ou propor modelos e projetos econômicos e políticos […], mas têm uma dimensão antropológico-social e ético-moral fundamentais, para a qual a Igreja tem competência e pode oferecer uma contribuição valiosa”, lembra o teólogo Francisco Aquino Junior, do livro Encíclicas Sociais: um guia de leitura. Dessa forma, Igreja e Movimentos Populares estão num processo de construção do Projeto Popular O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos.

Fonte: CNBB