Em muitas falas recentes sobre a atual pandemia, ouve-se dizerque toda crise é também oportunidade. A vida do ser humano é marcada por repetidas “crises”. Nascer é a primeira crise que se tem que enfrentar.A partir daí a vida segue um longo ou curto processo de crescimento. No percurso, é preciso contar com outras situações críticas que a própria vida se encarrega de oferecer. Quem não se lembra, por exemplo, de quando teve que ir para a escola pela primeira vez? Para uns tratou-se de uma realidade tranquila, já para outros não foi tão fácil ter que se adaptar a uma realidade complemente diferente.
O fato é que toda crise nos desestabiliza e revela que ainda não chegamos aonde devemos chegar, mas que é preciso aproveitar as várias circunstâncias da vida para as oportunidades novas que se oferecem. Na crise há dor, mas também há descobertas que podem marcar uma revolução na vida pessoal para o bem ou para o mal. Tudo dependerá de fazer as escolhas mais acertadas. Para isso, é necessário contar com a experiência de outros também. Nada como uma crise para ajudar-nos a compreender que dependemos uns dos outros, que ninguém pode pretender viver uma vida melhor só olhando para si.
Como temos ouvido frequentemente, no atual contexto da pandemia, espera-se que juntos consigamos ter atitudes diferentes, melhores, depois do sofrimento que juntos também estamos atravessando.
Um dos elementos surpreendentes desse tempo tem sido as diversas manifestações de solidariedade. É evidente que também entre os cristãos isso se manifeste de muitas formas, afinal a solidariedade está no DNA do cristão, uma vez que ele entende que somos o que somos porque Deus se fez solidário à condição de necessidade da humanidade e também porque Jesus ordenou-nos amar-nos como Ele nos amou.
A Igreja católica no Brasil tem procurado potencializar aquilo que já normalmente faz nas diversas inciativas caritativas que realiza. Entende-se que o momento atual gera uma urgência ainda maior do ponto de vista social. Portanto, é preciso unir as forças para poder ir ao encontro dos irmãos e irmãs que se encontram em diversos tipos de necessidades. Com esse intuito, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Cáritas Nacional estão se unindo às múltiplas iniciativas das dioceses, paróquias e outros grupos, através de um projeto de ação solidária emergencial, intitulado “É TEMPO DE CUIDAR”, inspirado no lema da Campanha da Fraternidade 2020.
As atitudes do bom samaritano que “viu, sentiu compaixão e cuidou” do homem que ele encontrou à beira do caminho, inspiram os gestos concretos que juntos queremos assumir diante da atual circunstância de dor que estamos vivenciando.
Através do diálogo com as várias realidades eclesiais e a troca de experiências, pretende-se estimular aquelas ações que possam atender de modo mais eficiente a assistência imediata, tendo sempre presentes as medidas de precaução higiênica indicadas pelasautoridades sanitárias.
Atenção especial deve ser colocada também para identificar outras formas de vulnerabilidade que também deverão ser atendidas. O projeto da equipe CNBB-Cáritas destacava, por exemplo, a solidão e outrasangústias emocionais, bem como o atendimento religioso diante da exigência dedistanciamento social.
Em nossa Diocese, as Paróquias, Cáritas diocesana e Centro de Direitos Humanos, além de outras realidades eclesiais, como, por exemplo, a Casa do Menor, têm se mobilizado com propostas concretas para identificar as necessidades e oferecer acompanhamento e ajudas necessárias.
Que a pandemia desperte ainda mais entre nós a solidariedade necessária neste tempo, procurando tocar a carne de Cristo sofredor, dando esperança para que nossos irmãos e irmãs sigam caminhando neste deserto em que nos encontramos.
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguacu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.