É conhecido de todos o episódio acontecido durante a eleição para Papa, do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio. Ele mesmo conta que, ao se tornar certa a sua escolha, um cardeal brasileiro aproximou-se dele e disse: “não se esqueça dos pobres”. Bergoglio assumiu esse convite quase como um programa do seu pontificado. Ele mesmo tem procurado recordar os pobres não apenas à Igreja, mas ao mundo todo, pois “o grito dos pobres se torna mais forte a cada dia. E a cada dia é menos ouvido, porque abafado pelo barulho de poucos ricos que são sempre menos e sempre mais ricos” (Papa Francisco).
A escolha dos pobres é primeiramente divina. É sempre surpreendente o fato de que Deus, ao se tornar homem, tenha escolhido o estilo de vida dos pobres; e que Jesus, durante a sua vida pública, vivesse cercado de pessoas que representavam o rosto da pobreza em seu tempo. Que Deus ame os pobres, é um fato que as Sagradas Escrituras demonstram desde o início até o fim. São Paulo testemunha que a única recomendação que recebeu dos Apóstolos Pedro e João, no início de sua caminhada evangelizadora, foi a de que não se esquecesse dos pobres (Gl 2, 10). A própria “qualidade” de Deus por excelência, junto com o seu poder, é a misericórdiaque traduz a atitude concreta de Deus para com os mais necessitados, os mais pobres entre os pobres.
No domingo, 17 de novembro, celebramos o 3º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco como fruto da experiência do Ano Extraordinário da Misericórdia, em 2016. Neste ano, como de costume, o Santo Padre enviou uma mensagem para este dia cujo tema é “a esperança dos pobres jamais se frustrará”.
Este dia oferece a lembrança necessária dos pobres em nossas Igrejas e o convite a uma ação que signifique mãos estendidas para eles. Em nossa Diocese indicamos que cada paróquia tenha iniciativas que sirvam também para motivar ainda mais o nosso compromisso com aqueles que Jesus quis identificar-se de maneira muito concreta. São tão variadas as pobrezas do nosso tempo que temos de realizar muitas iniciativas, que não se restrinjam apenas ao Dia Mundial dos Pobres, mas que nos comprometam ainda mais com a vida desses irmãos que “se tornam invisíveis, e cuja voz já não tem força nem consistência na sociedade” (Papa Francisco).
A Sagrada Escritura vê o pobre como “aquele que ‘confia no Senhor’ (cf. Sl 9, 11), pois tem a certeza de que nunca será abandonado”, assim recorda o Papa Francisco na sua mensagem. Deus “é Aquele que ‘escuta’, ‘intervém’, ‘protege’, ‘defende’, ‘resgata’, ‘salva’… Em suma, um pobre não poderá jamais encontrar Deus indiferente ou silencioso perante a sua oração.” Por isso, recorda o Papa, “a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora, é uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a abraçar”.
Assim, nós somos chamados a manter viva, diante dos nossos contemporâneos, a lembrança desse Deus que cuida dos pobres e lhes dedica toda a sua atenção. Por isso, o Papa Francisco recorda na sua mensagem que “os pobres precisam de Deus, do seu amor tornado visível por pessoas santas que vivem ao lado deles e que, na simplicidade da sua vida, exprimem e fazem emergir a força do amor cristão”.
Que cada um de nós possa somar-se às inúmeras iniciativas planejadas em nossas comunidades paroquiais, e em outros setores da vida da Igreja, para que a esperança dos pobres se renove e não se frustre.
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu (RJ)