Na 57ª Assembleia dos Bispos do Brasil, em maio passado, foram aprovadas as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o quadriênio 2019 a 2023. Trata-se de identificar elementos de um processo para responder aos desafios da missão dos cristãos nesta hora da história, de modo a incidir positivamente nas circunstâncias atuais. Afinal, o Evangelho, ao propor uma nova relação com Deus, a de filhos e filhas, e dos homens entre si como irmãos, oferece às diversas culturas valores que dignificam a pessoa humana e a elevam a uma maior humanização. Um Deus próximo que aproxima as pessoas umas das outras.
“Evangelizar no Brasil cada vez mais urbano”, é um dos objetivos das Diretrizes. De fato, nos damos conta de um giro cultural em ação nas últimas décadas. Alguns chegam até mesmo a falar de uma nova era da história da humanidade. Esta nova configuração cultural tem na realidade “urbana” uma expressão bem característica. Há elementos culturais que pouco a pouco configuram uma nova maneira de se colocar diante da vida que afeta profundamente o relacionamento com as coisas e também entre as pessoas.
Quando se fala de urbano, na reflexão feita pelos bispos nas Diretrizes, refere-se não simplesmente à tendência que vai se generalizando das pessoas viverem nos grandes centros, mas tem a ver com fato de que “o estilo de vida e a mentalidade dos ambientes citadinos se expandem sempre mais, alcançando rincões mais distantes, com todas as consequências – humanas, éticas, sociais, tecnológicas e ambientais entre outras” (n. 28). Lembro-me sempre de um amigo padre, de uma cidadezinha do interior da Bahia, que me dizia certa vez em uma conversa numa rede social: “na minha cidade não tem água encanada, mas não falta internet”. Constatar isso ilustra o impacto que novos conhecimentos e novas relações têm na atual cultura.
As Diretrizes procuram entrar em diálogo com realidades presentes na cultura urbana, mostrando as sombras, mas também projetando luzes sobre elementos que a caracterizam como a individualidade, a pluralidade, o ambiente religioso urbano, a alta mobilidade, a pobreza, a crise de vida e de sentido, o desafio ambiental e o impacto dessas realidades sobre as gerações mais jovens.
Diante disso, constata-se a atualidade do que dizia São Paulo VI em 1975, na Exortação Apostólica sobre a Evangelização no mundo contemporâneo: “para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação” (n. 19).
Para enfrentar esta missão, os bispos lembram a atualidade do anúncio da pessoa de Jesus Cristo, um anúncio explícito, mas que vai sempre vinculado com a experiência comunitária da vivência da fé em comunidades eclesiais missionárias, lugar onde a fé se torna próxima das pessoas, como em sua casa, e o testemunho encontra força para atrair as pessoas ao amor de Cristo que se manifesta no amor entre os irmãos.