Ouvir e caminhar com os jovens
Os jovens costumam ser apresentados como referência futura nas reflexões e falas de muitas pessoas. Há sempre quem os apresente como esperança do amanhã e certeza futurística.
Gostei de ouvir da boca do Papa emérito, Bento XVI, a afirmação de que os jovens são o presente da Igreja, pois se não forem o presente, também não haverá futuro para ela. Mais recentemente, o Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Cristo vive, dirigida aos jovens, disse algo semelhante ao afirmar que “depois de repassar a Palavra de Deus, não podemos dizer apenas que os jovens são o futuro do mundo. São o presente, pois o estão enriquecendo com sua contribuição” (n. 64).
De fato, de muitas formas, e em vários setores da vida humana encontramos muitos jovens sendo protagonistas de realidades novas nos diversos âmbitos da sociedade. É impossível ignorar de que eles são construtores de um presente que influenciará o que se viverá futuramente. No entanto, para muitos jovens o presente é inibidor de sonhos e projetos, pois se encontram do lado daqueles que não tiveram oportunidades nem referências que os ajudasse a assumir o protagonismo que lhes é próprio.
Ter clara essa relação determinante dos jovens com o presente é de importância capital uma vez que nos pode servir para refletir acerca de como consideramos seu papel na Igreja e no mundo. Desde a relação mais elementar que é a familiar até à mais complexa, por exemplo, com as diversas instituições sociais, os jovens requerem uma atenção privilegiada, uma vez que este presente é condição do seu futuro e de toda a humanidade.
A celebração do Dia Nacional da Juventude (DNJ), neste domingo,deve nos provocar uma profunda revisão sobre o lugar que estamos dando aos jovens em nossas diversas realidades eclesiais: diocese, paróquias, comunidades, pastorais, movimentos, associações, etc. A ocasião nos obriga a uma reflexão e a um olhar para os jovens que estão próximos de nós, sem esquecer, é claro, os mais distantes.
Desde o Sínodo da Juventude, em outubro de 2018, repetidas vezes se recorda um pedido de dispor de meios mais eficientes para escutar pessoalmente os jovens. O Papa Francisco adverte que “essa empatia enriquece, porque permite aos jovens dar a sua contribuição à comunidade, ajudando-a a abrir-se a novas sensibilidades e a fazer-se perguntas inéditas” (Cristo vive, n. 65).
Este ano o DNJ se inspira na atitude de Jesus com os discípulos de Emaús: “Ouviu e junto com eles caminhou” (Lc 24, 15-17). A escuta e o acompanhamento descrevem os desafios importantes a enfrentar para realizar uma pastoral juvenil capaz de dialogar com o nosso tempo e com as necessidades dos jovens de hoje.
Preocupa-nos a ausência dos jovens nas nossas estruturas sobretudo paroquiais. Às vezes é mais fácil encontrá-los em outras realidades eclesiais. Talvez nelas eles encontrem mais acolhimento, valorização pessoal, acompanhamento personalizado, envolvimento missionário. O tempo tem nos feito compreender que se deve superar aquela tendência a oferecer caminhos aos jovens sem que estes caminhos tenham sido trilhados também por outros jovens. Nada do que se oferece pastoralmente para os jovens deve ser feito sem eles. Como recorda Francisco, “os próprios jovens são agentes da pastoral juvenil, acompanhados e orientados, porém livres para encontrar caminhos sempre novos, com criatividade e audácia.” (Cristo vive, n. 203)
A celebração anual do DNJ acenda em nós o desejo persistente de abrir espaço e encontrar caminhos para ouvir e seguir mais de perto os jovens de dentro e de fora da Igreja, afinal “todos os jovens, sem exclusão, estão no coração de Deus e, portanto, no coração da Igreja”(Cristo vive, 235).
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.