Não precisamos estar tão atualizados acerca das notícias que circulam nos meios de comunicação para nos darmos conta de que uma das grandes urgências do nosso tempo é a educação. Talvez, uma conversa dentro da própria casa, nos faça perceber que os parâmetros parecem ter mudado, e o choque de gerações hoje vai se transformando em verdadeiro distanciamento e, muitas vezes, em indiferença. Os pais e os educadores de modo geral se perguntam acerca dos melhores instrumentos para hoje ser mais eficazes no processo educacional das novas gerações. Muitas vezes a perplexidade chega mesmo até quanto ao próprio conceito de educação. Há uma gama de escolas filosóficas que propõem este ou aquele conceito, e, consequentemente, este ou aquele caminho. A escolha não é indiferente, pois se trata de ajudar uma pessoa a encaminhar-se na vida, a buscar a maneira de encontrar o sentido da própria existência, a percorrer aquela estrada que conduz à realização elementar a que todo ser humano é chamado a alcançar.
O Papa emérito, Bento XVI, já alertava para uma emergência educativacomo um dos desafios mais relevantes do nosso tempo e, recentemente, o Papa Francisco, convocou-nos para um pacto mundial sobre a educação, atendendo pedidos vindos de todas as partes e não apenas do mundo cristão, de que liderasse um movimento global a favor da educação.De fato, a situação neste campo é tal que não bastam iniciativas isoladas para atender às demandas relacionadas à educação, mas faz-se necessário reunir muitas forças e realizar um trabalho comum, de apoio mútuo, para recuperar “aquele pacto educativo que se dá entre a família, a escola, a pátria e o mundo, a cultura e as culturas”(Francisco, Discurso em 7 de fevereiro de 2020). É ilusão pensar que uma única instância realiza toda a complexidade da educação. A criança que recebe em casa as indicações sobre valores, sobre a vida, é a mesma que na escola, na sociedade irá confrontar o que ouviu no seio familiar com o restante do contexto onde está inserida. A educação, de fato, é global, embora a base familiar seja primordial e de relevância ímpar.
No discurso acima citado, durante um Seminário organizado pela Academia Pontifícia de Ciências Sociais, em Roma, sobre “Educação: o pacto mundial”, o Papa Francisco dizia que “hoje é necessário unir esforços para alcançar uma aliança educativa ampla com o objetivo de formar pessoas maduras, capazes de reconstruir, reconstruir o tecido relacional e criar uma humanidade mais fraterna”.
A fragmentação característica de nosso tempo, em amplos setores da vida humana, tende a deslocar as pessoas das realidades essenciais, causando um distanciamento relativo às verdadeiras potencialidades do ser humano. O processo educativo compromete o presente e o futuro de toda a pessoa. Por isso, lembra Francisco que cada geração deve enfrentar o desafio educacional de sua época, pois deve responder sobre “como transmitir seus saberes e seus valores à seguinte (geração), já que é através da educação que o ser humano alcança seu máximo potencial e se converte em um ser consciente, livre e responsável. Pensar na educação é pensar nas gerações futuras e no futuro da humanidade”(Papa Francisco).
Esta convicção levou os cristãos, em momentos importantes da história, a terem iniciativas que marcaram mundo da educação. Pensemos, por exemplo, na pedagogia inaugurada por São João Bosco, como marco da proximidade dos educadores de seus educandos.
Interessa na educação considerar a pessoa toda, por isso, ainda em palavras do Papa Francisco, não basta transmitir conceitos, mas “buscar integrar a linguagem da cabeça com a linguagem do coração e a linguagem das mãos. Que um educando pense o que sente e o que faz, sinta o que pensa e o que faz, faça o que sente e o que pensa.” Certamente, teremos muitos desdobramentos práticos dessa proposta do Papa Francisco. A Conferência episcopal, através da Comissão Episcopal Pastoral para a Educação e Cultura, tem oferecido subsídios para garantir apoio a esta iniciativa que oferece um sinal de esperança diante dos desafios à educação. Queremos acompanhar esse processo de perto, pois a todos interessa o futuro da humanidade que passa pela família e pela educação.
Artigo de Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB