Nas últimas semanas o tema da vida tem estado no foco de muitas notícias veiculadas nos meios de comunicação e nas mídias sociais. O repetir de ações violentas contra crianças e jovens, a depressão e o suicídio, a mutação climática, são temas recorrentes que colocam a preocupação pelo valor e o cuidado da vida no centro das atenções. Diante da banalização da vida humana continua sendo urgente anunciar o evangelho da vida. Na primeira página da Sagrada Escritura, no Antigo Testamento, já se anuncia a bondade e a beleza de tudo o que Deus fez, mas sobretudo, a prioridade de um ser humano, ao afirmar que, após criar o homem e a mulher, “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31). No Novo Testamento, a primeira página do Evangelho canta a vida ao começar com a notícia de uma maternidade, aquela de Maria, a Mulher que gera um Filho que é a Vida (Lc 1, 31).
Deus é autor da vida e, portanto, amigo do ser humano. Ele cuida de nós. Somos também chamados a celebrar a vida e a defendê-la. Na primeira semana de outubro, vamos celebrar a Semana Nacional da Vida, instituída em 2005, na 43ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que terá sua culminância no Dia do Nascituro, dia 8 de outubro. Neste ano, o tema “em família defendemos a vida”, indica como a família é o ambiente mais adequado para a proteção de uma vida humana, ela é a primeira responsável pelo cuidado permanente da vida e garantidora dos autênticos valores que favorecem o seu desenvolvimento integral.
A vida humana, desde a sua origem na fecundação até o seu fim natural, é sempre um dom que deve ser reconhecido e protegido. As ameaças são muitas, por isso, iniciativas como a Semana Nacional da Vida geram oportunidades para despertar-nos sobre o nosso compromisso concreto de trabalhar pelo direito à proteção da vida e à saúde, à alimentação, ao respeito e a um nascimento digno.
Na carta programática do seu pontificado, chamada “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco reserva palavras contundentes sobre o empenho da Igreja na valorização da vida humana, começando pelo ser humano mais frágil de todos, o nascituro, ou seja, aquele que há de nascer e ainda se encontra na barriga da mãe. Diz assim o Papa: “entre os seres frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predileção, estão também os nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações para que ninguém o possa impedir. Muitas vezes, para ridicularizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e no entanto esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno” (nº213).
Quando a vida do mais frágil não é respeitada a tendência é desrespeitar toda e qualquer vida humana e também não cuidar do ambiente no qual a pessoa encontra o lugar propício para a vida. Madre Teresa, defensora da vida, sabia muito bem disso. Por isso, falando sobre o aborto afirmou: “se nós aceitamos que uma mãe possa matar seu próprio filho, como é que nós podemos dizer às outras pessoas para não se matarem?” É hora de enfrentarmos a cultura da morte que nos rodeia com novas posturas. As pessoas não são meros instrumentos umas nas mãos das outras, mas sim dom que se acolhe e que se ama, independentemente de qualquer coisa. A família deve continuar sendo o lugar do aprendizado da valorização de cada um pelo que se é. Nossas comunidades eclesiais, empenhadas no anúncio do Evangelho e no cuidado das pessoas, podem também ser geradoras de novas relações que coloquem no seu devido lugar o respeito ao sagrado dom da vida de todo ser humano. Que a celebração da Semana Nacional da Vida faça parte da nossa contribuição concreta para uma nova cultura de valorização da vida.
Artigo de dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu